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Desde criança tinha um prazer enorme em ficar ouvindo histórias de pessoas mais velhas.
Durante mais de 26 anos, tive o prazer de conviver com queridos amigos de infância com os quais vivi incríveis momentos na inesquecível Rua9.
Hoje faço uma homenagens a vocês meus amigos de sempre.

Os textos vocês me enviaram para fazer parte de um capitulo do meus livro “Nunca é Tarde para Começar”.
Com carinho

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Saudosismo – sau·do·sis·mo – sm
1 Apego aos princípios políticos, sociais, morais do passado que já não se aceitam mais.
2 Tendência a valorizar e elogiar o passado ou coisas do passado.
Sim. Saudosismo. Sinto muito saudosismo da época que morei na Rua9. Foram 28 anos vividos em um ambiente em que tivemos muitas alegrias e, em outros momentos, algumas tristezas, mesmo assim, hoje você não encontra em nenhum outro bairro da cidade a amizade que tínhamos.
Quantas situações vividas, passaríamos horas, dias, semanas, relatando tudo isso. Foram muitas passagens, algumas de caráter privado, outras não. Mas todas elas fizeram parte de nossas vidas na Rua9.
Os tempos mudaram, a modernização com aplicativos de conversa e redes sociais chegou e com eles o distanciamento entre as pessoas. Na minha época, quanto você queria saber como estava seu vizinho, você ia até a sua casa para falar com ele. Hoje basta um clique. Mas não estou aqui para elogiar ou criticar a modernidade. O fato é que sua aplicabilidade para inúmeros fins é magnifica, e aqui estou para contar uma pequena passagem da fase em que vivi na Rua9.
Natural do Bairro Ferreira, que depois teve seu nome alterado para Jardim Monte Kemel, sou o caçula de uma família de cinco pessoas. Nessa época, meu pai, o senhor Sildo, e minha mãe, a dona Maria, moravam na Rua Mario de Moura Albuquerque, a rua da feira de sábado, ou simplesmente a Rua 5.
Nosso bairro era muito bom para viver e crescer com liberdade e de forma saudável.
Ah! Que saudade da Rua9!
Éramos uma “grande família”. Tratávamo-nos com muito respeito, tanto entre aqueles vizinhos mais ranzinzas (da forma mais carinhosa), quanto aqueles mais amáveis. Era uma rua predominantemente masculina e o mais curioso é que em quase todas as famílias havia um ciclo de três gerações.
A família Jacob Moreira, família Lima, família Mônaco, família Cardoso de Sá e não diferentemente com a família Gonçalves de Azevedo, com meus dois irmãos mais velhos, o Sildo (Sabão) e o Francisco (Chicão).
A fama da Rua9 era tão grande, que a garotada das outras ruas do bairro vivia por lá, brincando, fazendo bagunça, jogando taco, futebol de rua com gol formado de tijolo (aliás logo mais comento um fato sobre esse futebol), etc. Ou seja, relacionavam-se com todos nós, como se fossem residentes daquele logradouro, o que era muito natural à época, mas que só acontecia na Rua9.
Uma das minhas lembranças acredito que tenha acontecido por volta de 1981, o dia da semana era um sábado. E, como todo sábado, a rotina da Rua9 era que o autor deste livro, meu vizinho Delço, na época com uns 19 anos de idade, ficava lendo o Jornal da Tarde, encostado no muro da casa da dona Teresa, mãe do Clidinho, sentado em sua almofada de veludo vermelho, e nós e os outros amigos da rua parávamos e ficávamos um bom tempo conversando sobre a vida e vendo as pessoas indo e voltando da feira. Naquela época as pessoas ficavam mais à vontade para lavar seus automóveis na rua e a criançada ficava brincando mais livremente.
Numa dessas tardes, meu vizinho José Aderbal, irmão do Delço e filho da dona Elizia, mais conhecido como Zé Baiano (naquela época não havia nenhum problema neste tipo de tratamento pessoal. Aliás, esse tratamento demonstrava o respeito e a afetividade que existiam entre todos os moradores), pois bem, estava ele lavando seu fusca em frente à sua casa, hábito de todos os moradores e que ocorria pontualmente todos os sábados. A garotada estava jogando sua tradicional pelada, o futebol de tijolo. Isto porque os gols eram feitos de tijolos, onde eram contados seus 5 passos devidamente entre um tijolo e outro.
Em um dado momento, a bola foi parar perto do fusca do Zé, o “pois é”, como era apelidado o bólido (apelido dado pelo meu pai, o senhor Sildo). Ele ficou a observar o desfilar daquele futebol arte da garotada, quando em um dado momento ele proferiu aquele codinome que marcaria minha infância, na forma de como meus amigos me tratariam dali para a frente não só na Rua9, mas em todo o bairro.
Naquele momento, a partida pegando fogo, a garotada gritando e correndo, chutando a bola pra lá e pra cá. Uma bola dente de leite meio murcha, mas que para nós representava a “Tango” da Adidas. O Zé Baiano, neste momento, se voltou para a arena daquele clássico e disse: “Toca para o COALHADA”.
Ninguém sabia quem era este tal Coalhada. Ao indagarem ao Zé quem era o tal jogador, ele respondeu: “O Marcinho. O Marcinho do seu Sildo”.
A molecada começou a rir e me disse que o Zé havia me chamado de Coalhada. Nesse momento não titubeei. No reflexo, desmontei o nosso gol e com um arremesso de uns 40 metros, mandei o tijolo para cima do Zé.
Por sorte errei. Não acertei ele, tampouco o “pois é”. Ele começou a gargalhar em seu estilo habitual e depois disso o apelido grudou. Lá se vão 39 anos de Coalhada (eu tinha 11 anos na época).
O apreço por sua amizade nunca diminuiu, pelo contrário, a amizade que foi construída na Rua9, estará sempre presente em nossas vidas. O Zé com seu jeitão boa gente, e era mesmo, sempre estava pronto a ajudar as pessoas. Quando cortei minha perna no escapamento da Brasília do senhor José da dona Lúcia, foi ele quem me socorreu. Nas tardes de domingo, quando o Timão jogava no Morumbi, ele sempre me levava. Chamando pelo muro da casa dele, que era colada com a nossa, dizia: “Seu Sildo, posso levar o Marcinho no jogo do Corinthians”. E lá ia o Zé com a molecada para o Estádio do Morumbi. Sempre nos divertíamos muito com esta e outras histórias da Rua9.
Saudades!
Não somente daquelas tardes de sábado, mas também das de domingo. Entre tantas outras histórias, optei por contar esta breve passagem, por entender que seria uma forma de homenagear o Zé Aderbal, um velho amigo, um vizinho, “um parente”, com quem tivemos a alegria de conviver por anos, mas que hoje não está mais entre nós.
Em junho de 2016, estava em Serra Negra quando recebi a notícia de seu passamento. Voltei no mesmo momento, mas infelizmente não tive oportunidade de me despedir. Mas de onde está, ele sabe do respeito e carinho que temos por ele.
Ele deixou muitas lembranças.
Esta é uma das histórias vividas na minha Rua9.
Saudades!

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Meu nome é Armando, hoje tenho 68 anos, moro em Cotia, município pertencente à região metropolitana de São Paulo, mas nem sempre morei em Cotia.
Em janeiro de 1964, quando eu tinha 11 anos de idade, minha família mudou para o Ferreira, hoje Jardim Monte Kemel, e junto com meus dois irmãos, Fausto e Toninho, fomos morar numa rua de terra, como eram quase todas as ruas do bairro, e foi por aquela rua de terra que eu me apaixonei. A Rua9.
Minha mãe, a dona Donatila, continua morando na sua residência na antiga Rua9, meu pai, Agostinho, faleceu já alguns anos. Pelo menos uma ou duas vezes por semana, vou visitar a minha mãe e revejo um ou outro amigo que ainda moram na Rua.
Hoje ela é asfaltada e com todas as melhorias sanitárias que uma rua pode ter na cidade, deixou de ter o nome em numeral 9, e passou a ter nome de um político, vereador cassado pelo golpe de estado em 1937. Mesmo com essas mudanças, continuo tendo muito carinho pela rua, mas minha paixão mesmo é por aquela Rua9 de terra dos anos 60 e 70.
Talvez porque tenha sido nessa rua que vivi toda minha adolescência e juventude, acho que é nessa idade que se criam as maiores paixões.
A Rua9 foi especial, moravam famílias muito conservadoras e outras bastante liberais, apesar das diferenças, todas se davam muito bem.
Na Rua9, eu tive algumas paixões amorosas, também criei muitos amigos, com alguns mantenho contato até hoje; outros, faz muito tempo que não vejo; e também tem os que Deus levou muito cedo, como meu amigo Luís, o Paçoca.
Tinha e tenho uma amiga especial, a Leda, filha da dona Elizia. Ela era minha confidente na juventude nas coisas do coração. Teve época em que pelo menos uma vez por semana, chegávamos a passar de quatro a cinco horas confidenciando, sentados nos degraus da calçada em frente à casa dela.
Também era na casa da Leda onde acontecia a maioria dos bailinhos da rua, coordenados pelo irmão mais velho dela, o Altamiro, hoje já falecido, e nos divertíamos com nossos outros vizinhos e amigos.
A Rua9 foi muito especial, não só para mim, mas também para amigos meus que também gostam muito dela e têm muitas histórias para contar. Meu amigo Delço, irmão da Leda, no final dos anos 90, mandou confeccionar umas camisetas padronizadas com um logotipo da Rua9, que tenho até hoje.
É muita saudade!

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Passei uma grande parte da minha vida na Rua9, ali convivi, aprendi e me diverti com minha família e muitos amigos.
Histórias e momentos felizes não faltam para serem contados. Minha história é com o amigo Delço, filho da dona Elizia.
Durante uns 12 anos, andamos, nos divertimos e curtimos a nossa vida como dois verdadeiros amigos.
Sem dúvida essa amizade gerou muitos comentários sobre nosso relacionamento e, podem acreditar, nunca tivemos nada além da amizade.

Com o Delço, vivi muitos momentos marcantes, desde passarmos as noites e tardes dos finais de semana conversando no portão da casa dele, sozinhos ou com outros vizinhos, até ir ao cinema, sair para jantar ou simplesmente passear pela cidade.
E muitos desses passeios fizemos de ônibus, depois na Moto CG que ele tinha e mais tarde na sua Saveiro. E foi nessa Saveiro que lembro da viagem que fizemos em janeiro de 1991.
Saímos da Rua9 com a intenção de passar um final de semana em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo. Naquela época não tínhamos a facilidade de reservar hotel como fazemos hoje. Por volta das 6h00 da manhã saímos pela Rodovia Dutra rumo às praias, mas num determinado momento resolvemos seguir em frente e não ir mais para Ubatuba e continuamos pela BR116 até o Rio de Janeiro. Foi uma aventura, passamos pela cidade do Rio e continuamos rumo à Ponte Rio–Niterói e, sem destino, seguimos estrada afora. Paramos para dormir num motel de beira de estrada em Vitória, no Espírito Santo. Como dois aventureiros, parávamos nas praias para um rápido banho de mar e continuávamos sem destino. Lembro que numa estrada, durante a noite, o Delço fez uma gracinha de apagar os faróis da sua Saveiro, pegamos um buraco e tivemos de trocar o pneu naquela estrada escura e deserta, morrendo de medo.
Não tínhamos destino, estávamos apenas seguindo a estrada e, de uma hora para outra, acabamos chegando a Salvador. Lembro como hoje a felicidade de estar em Salvador, onde fizemos os tradicionais passeios pelo Mercado Modelo, Praia de Itapuã, Lagoa do Abaeté, Pelourinho e depois fomos visitar uns parentes dele, o Totonho e a Neide, que nos convidaram e passamos a noite na casa deles.
Naquela noite, conhecemos Silvania, uma prima do Delço, que tinha 20 anos na época e estava passando férias em Salvador. Ela morava no Riacho da Onça, uma cidade do interior da Bahia, onde o Delço tinha nascido. Ela nos convenceu e resolvemos levá-la de Salvador até o Riacho. Imagina, a Saveiro é um carro para duas pessoas e nós três viajamos uns 290 km.
O Riacho da Onça é um lugarejo muito pequeno, lugar de famílias, onde todos são parentes um dos outros, lembro-me de tomarmos banhos no açude e conhecer a famosa serra que existe na região e não poderia deixar de lembrar da noite em que o Delço, depois de duas cervejas e uma dose de conhaque, tomou o segundo porre da vida dele e saiu vomitando pela praça inteira. Eu sempre gostei e ainda gosto de tomar cerveja e o Delço sempre ficava na Coca Cola, mas naquela noite ele disse que estava feliz de voltar à sua cidade natal. A ideia era passar somente uma noite, mas depois desse porre ele não conseguiu se recuperar no outro dia e passamos mais uma noite.
Fizemos muitas outras viagens em várias outras situações e, vocês podem acreditar, nunca tivemos nada. Sei o quanto o Delço preza as suas amizades com os amigos da Rua9 e, posso dizer, ele foi meu grande amigo e acredito que ele pensa da mesma forma. Mas a vida seguiu, ele mudou da rua no final dos anos 90, eu mudei um tempo depois para o interior de São Paulo. Estamos muito longe um do outro faz muito tempo, mas tenho certeza de que o Delço e a Rua9 fizeram parte da minha vida e tenho muitas boas lembranças dos anos que passei por lá.

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Hoje por aqui eu passei. Por algumas ruas do bairro em que eu nasci e me criei eu andei.
Confesso que, diferente das outras vezes, hoje me emocionei.
Porque da minha infância e mocidade, toda uma história relembrei.
Na Travessa Dr. Julio Krause eu morei. Que bons tempos, meditando eu arrazoei.
Como criança e adolescente, todas as ruas, lugares, aqui eu explorei e bons valores incorporei.
Pelos diversos campos de futebol, eu joguei. Tubaína com meus amigos apostei e na maioria das vezes ganhei, mas foi na Rua9 que eu me extravasei.
No muro da casa dos meus primos, Sildo Azevedo (Sabão), Francisco (Chicão) e Márcio (Coalhada) rebatidas eu joguei.
Aliás… na Rua9, ao lado da casa do Delço, irmão do Zé, na companhia dos meus primos e amigos, eu muito me alegrei.
Quadrado para quatro na garagem da casa do Rubens Jacob Moreira, provavelmente invenção do professor Luiz Fernando Jacob Moreira, isso eu joguei.
Assim como meus amigos pensam a respeito de si, de quem frequentava a Rua9, no futebol eu fui rei. Coisas da imaginação de menino, eu sei… Mas o texto é meu e da disputada coroa, Delço, agora me apropriei.
Do mais empreendedor dos amigos Ricardo Monaco, o carnê do plano de expansão Telesp eu comprei. O meu primeiro telefone instalei.
Ah!!! Lembro a final do Brasileirão em que o Inter de Porto Alegre ganhou do Corinthians, o ano que foi eu não sei, mas lembro que assistindo na casa do meu tio Sildo eu muito chorei. É, Dadá Maravilha, por pouco naquela tarde de domingo, jovem ainda, por sua causa quase enfartei.
Com a desclassificação da seleção brasileira na copa do mundo de 1982, eu muito chorei. Com o Valdir Perez goleiro me irritei (bola na pequena área é do goleiro e até hoje isso é lei) e do Paolo Rossi muita raiva guardei. Da sala da casa do tio Sildo, injustiça, injustiça, isso eu gritei.
Na sede do Brasilzinho Futebol Clube na Rua9, sinuca eu joguei e o pouco dinheiro que tinha, ali eu gastei.
No natal e ano novo, cartelas de bingo com feijão eu completei, jogando com amigos, com o Paco Moreno Matilla e família na casa do tio Sildo, pouquíssimas vezes… “Tchinquina, tchinquina” eu gritei.
Domingos pela manhã na sede do Brasilzinho, o encontro para irmos jogar futebol na várzea era lei, a camisa 8 eu honrei e por muitos anos como titular lá eu joguei.
Da Rua9 e na companhia da galera, aos domingos à tarde, para o Estádio do Morumbi a pé eu caminhei, torcendo pelo Corinthians em muitos clássicos com mais 100 mil pessoas eu vibrei, nos vestiários entrei, autógrafos dos jogadores ganhei e até no gramado eu pisei.
E moço um dia fiquei e confesso que sair deste bairro eu logo precisei. Um futuro melhor eu desejei e, com muito esforço, hoje, eu alcancei.
A Rua9, os amigos, os meus pais e toda uma história de vida ali, no Jardim Monte Kemel, eu deixei.
Até a Disney por duas vezes eu já visitei.
E no sábado pela manhã, no final da Rua9, na feira do meu bairro de infância, na companhia da minha esposa, pastel de carne eu almocei.
Por que tudo isso pra vocês eu contei?
Porque, a bem da verdade, já de muitos eu escutei… “Do meu passado eu nunca me orgulhei”.
A despeito de quem raízes não tem, os meus cabelos branquearam, se passaram 25 anos que de lá eu me mudei, a paisagem não é a mesma, muito já nos deixaram, minha família de lá se mudou, mas a minha história, os meus amigos e tudo o que ali eu vivi, aqui eu honrei e estas gostosas memórias preservei.
Queridos, estas lembranças jamais ignorarei… é a minha infância… que saudades!!! Faz parte de mim, da minha vida e uma coisa prometo… isso tudo jamais esquecerei!

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Saudosa Rua9, década de 70.
Tantos momentos bons, difíceis de contar em tão poucas linhas.
Amizade de crianças, um pouco malandras e também um pouco inocentes, tínhamos que ser assim, afinal era São Paulo – Monte Kemel, tínhamos muito perto o bairro do Buraco Quente, que não era muito bom andar por lá.
Sou neto da dona Elizia, sobrinho do Delço, do Zé e dos outros seis filhos dela, que moravam na Rua9.
Eu morava com meus pais, Patricio e Lucinha, no Pazzini e vinha quase todos os dias para casa da minha avó, andava mais ou menos uns cinco quilômetros para estar com meus amigos. Não quero dizer que não tivesse amigos no meu bairro, mas foi com os amigos da Rua9 que eu cresci e todas as minhas aventuras na minha infância foram passadas com eles. Vou contar algumas delas.
Eu, Carlinhos, Toninho, Clidinho, Márcio, César e o Coalhada, praticamente todos com a mesma idade ou poucos meses de diferença, fazíamos parte da última geração dos moradores da Rua9 nos anos 70.
Não lembro o porquê, mas eu e o Chiquinho da dona Ruth estávamos fazendo um passeio perto da minha casa, aquilo era mato, até que chegamos a um sítio, tinha uma escada de terra e no alto um campo de futebol com um relvado lindo, o Chico foi o primeiro a subir a escada e ver a relva. Lembro-me de ver uns cães a certa distância, hoje penso que fossem rottweiler, não tenho certeza, talvez o Chico deva se lembrar melhor que eu, porque, em segundos esses cães estavam atrás de nós, eu era rápido, mas naquele dia nunca vi o Chiquinho tão rápido, correu na minha frente e subiu em uma árvore.
Eu não tive a mesma sorte, saí pulando de um barranco para outro e assim por diante, nem olhava para trás. No último, caí e bati com a boca no chão, mas foi como uma mola, caí levantei e continuei correndo, o Chico depois me disse que os cães haviam parado e que só via minha cabeça no mato pulando os barrancos.
No fim encontrei um poço abandonado, que tinha umas escadinhas, desci alguns degraus e fiquei esperando pelo Chico, foi aí que vi que tinha cortado a boca e o sangue caía na água em cima das rãs e na água verde do fundo do poço.
O Chico me contou que apareceram uns molequinhos loirinhos gritando “Pega, Thor” e que se borrou todo nesse momento.
Não satisfeitos com esse susto, uns dias depois resolvemos ir cortar bambu, num terreno que creio que pertencia a umas freiras. Levávamos facas, serrinhas e outras coisas até que um carro parou na parte de baixo. Não lembro quem estava conosco, mas passamos pela cerca de arame farpado como se ela não existisse. Todas as ferramentas ficaram lá, pelo menos eu não voltei para pegar (risos).
As noites de sábado na Rua9 eram maravilhosas, fogueiras no terreno da mãe do Chiquinho, a dona Ruth, pega-pega, esconde-esconde, estrela nova sela, entre outras brincadeiras.
Nessa de fogueira, eu e o Carlinhos, irmão do Marco e do Ricardo da dona Delza, pegamos uma caixa de fósforos e começamos com uns pauzinhos na calçada, nem sei de onde encontramos tantos paus depois, que a nossa fogueirinha estava quase chegando aos fios de eletricidade e tudo começou com dois ou três pauzinhos…
O Carlinhos foi o primeiro entre nós a usar óculos, tomava muito cuidado com eles, mas mesmo assim nunca deixou de entrar em todas as brincadeiras, então eu estava correndo para pegar o Carlinhos no pega-pega, ele escorrega e cai de bunda, põe as duas mãos na bunda e grita “Ai meus óculos, ai meus óculos”.
Engraçado que não me lembro de ninguém com gesso.
Tínhamos uma descida bem íngreme na Rua9, que cruzava com a Avenida 1, o Toninho da dona Maria do senhor Vicente ganhou uma bicicleta que tinha três marchas, então descíamos a rua com a magrela.
O Clidinho não sabia andar muito bem, mas pediu e, como éramos todos bons amigos, o Toninho o deixou descer também. Ele saiu em terceira, pegou um baita embalo; no fim da descida, deu a primeira guinada e todos falamos “Olha o Clidão, meu”; deu a segunda e pum, se espatifou todo, deixou quase metade da boca no asfalto. O Clidão gritava enquanto chorava.
Mas o pior estava por vir… “EUCLIIIIIIIIIIIDEEEEEES”, era o grito da mãe dele, a dona Tereza, esse grito colocava toda a molecada em sentido.
Creio que foi esse um dos motivos por que nenhum de nós perdeu o rumo na vida, eram as mães, que nos tratavam todos por igual, sem desmerecer, é claro, que alguns pais também participaram da nossa educação.
Como disse no início, teria que ser outro livro dentro de um livro para descrever tantos momentos passados na Rua9.
Em 1990 fui me aventurar na Europa e acabei fixando residência em Lisboa, casei, tenho dois filhos e hoje moro em Moçambique. Posso dizer que todos nós somos o que somos devido ao respeito, ao carinho, à amizade sem interesse que todos partilhamos na atual Rua Jose F. da Rocha Filho, que um dia foi a nossa Rua9.

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É com muito prazer que participo desta alegria que é escrever um pequeno relato sobre a nossa amizade da Rua9
Meu pai, senhor João, minha mãe, dona Hortência, eu e meu irmão, Zé, fomos morar na Rua9 em 1963. Fiquei por lá até 1973, quando me casei, mudei de bairro e fui cuidar da minha família junto ao meu marido e meus filhos.
Não poderia deixar de lembrar quanto eu, o meu irmão Zezinho e os filhos dos nossos vizinhos nos divertíamos.
A dona Elizia e seus filhos, Altamiro, Patrício, Joãozinho, Pina, Lourdinha, Leda, Zé e o Delcinho; os da dona Nildete e do senhor Rolando, a Rosana e o Roberto; a minha vizinha de muro, a dona Ruth, com os meninos, Júnior, Rubinho, Luís e o Chiquinho; a dona Delza e o sr. Eugênio, Ricardo, Marco e o Carlinhos; o Fausto, Armando e Toninho, filhos da dona Donatila e do senhor Agostinho, meus vizinhos de frente; a dona Alice e o senhor José, com as filhas Filomena e Rita; a dona Maria do seu Sildo, com o Sabão, Chicão e Marcio; a Vera, filha da dona Linda; a dona Lucia do senhor José e a filha Maria Helena, todos eram mais do que vizinhos, eram amigos.
E ainda os sobrinhos da dona Elizia, o Dão, o Tide, o Zezito, a Lucinha, a Deja, e muitos outros, ficávamos nos divertindo nas festas realizadas em plena rua ou na casa dela quando fazia canjica e arroz-doce. Era uma alegria.
Eu e a Leda sempre fomos amigas e estudamos no Pedro Fonseca, e nos divertimos muito nesse período. Nessa época, o Delço era criança.
Com o passar do tempo, nos casamos, mudamos de bairro e seguimos nossas vidas. Mas a saudade da Rua9 ficou em nossas lembranças, afinal ali vivemos muitas alegrias.
Agradeço a oportunidade de contribuir com essa breve lembrança aos meus queridos amigos da Rua9.

Felicidades a todos!

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Olá, meus amigos, cheguei à Rua9 aos 6 anos de idade juntamente com meu pai, Aldo, minha mãe, Rute, e meus outros três irmãos, Júnior, Luiz e Francisco, e permaneci ali morando até os 29 anos, quando casei e fui morar em outro bairro.
Tenho ótimas lembranças da nossa rua, vou contar algumas que aconteceram comigo e outras pessoas envolvidas certamente irão se lembrar.
Não me lembro o ano exato, mas eu e meus irmãos ganhamos de presente de Natal da minha mãe, a dona Ruth, uma bicicleta. Era uma Monark Jet Black dobrável simplesmente linda, meus irmãos e eu fazíamos rodízio para andar com o presente natalino.
E nesse dia era minha vez de andar com a bike, eu todo pomposo pedalando pela Rua9. Nessa ocasião as ruas do bairro estavam sendo asfaltadas. Quando eu estava passando em frente da casa do Delço, hoje Delci Lima, lá estava a Leda, sua irmã, que iria se formar naquele final de semana no ginásio e pediu para levá-la para dar uma volta de bicicleta. Eu de pronto e imediato atendi ao seu pedido. Muito bem, começamos pela Rua9 e dobramos a esquerda para entrar na Rua 23, eu, todo empolgado com a Leda na garupa, sentei o pé e desci a referida rua a mil por hora, mas de repente, no meio da descida, não lembro se perdi a direção ou fui fechado e o inevitável aconteceu: meti a bike na guia, a minha bicicleta virou uma sanfona e a Leda se esfolou toda, teve de remodelar seu vestido de formatura pois ralou o braço.
Muito bem, e para contar para meus irmãos e minha mãe que eu tinha acabado com a bicicleta? Aí surgem os meus amigos e vizinhos Ricardo Monaco e o Sabão, que deram a ideia de levarmos a bike para a garagem dos Monaco pra tentar fazer o reparo e nós três baixamos a porta e começamos tentar recuperar a bicicleta. Mas nesse momento meu irmão Luiz ficou sabendo e, juntamente com o Delço, ficou de plantão na porta da garagem onde estávamos tentando reparando a bike, foi um deus nos acuda.
Fizemos de tudo para consertar o impossível, até que desistimos e, abrindo a porta da garagem, eles viram o estrago que eu tinha feito com o presente que ganhamos da nossa mãe.
Resultado, a bicicleta nunca mais foi a mesma e a Leda foi machucada para sua formatura.
Outra boa lembrança que tenho da minha infância foi quando, menino, trabalhei com os amigos da família da dona Donatila. Durante um período, fui de madrugada entregar leite Leco com o Fausto e tempos depois trabalhei ajudando no mercadinho que ela tinha no salão embaixo do seu sobrado, aliás um mercadinho que deu o primeiro emprego a muitos garotos da Rua9, como do Delço e outros. Naquela época não existia o Jovem Aprendiz.
Outra história que marcou a minha juventude foi a viagem que fiz em fevereiro de 1986 com meu irmão mais novo, Chiquinho, e meus amigos Sabão e Delço para Maceió.
Saímos de São Paulo na Brasília do Sabão, isso mesmo uma Brasília sem ar-condicionado nem direção hidráulica e percorremos 7.100 quilômetros numa aventura pelo Rio de Janeiro, Cachoeiro de Itapemirim, Vitória do Espírito Santo, Casimiro de Abreu, Porto Seguro, Ilhéus, Itaparica, Salvador, Subaúma, Aracaju, Maceió e Praia do Francês.
Segundo o Delço, que tem viajado muito por esse mundo afora, foi uma das melhores viagens da vida dele. Com certeza posso confirmar, foi um momento de liberdade, descoberta e muita aventura que vamos levar para a vida toda.
Um grande abraço meus, amigos! 

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User comments

Tenho inúmeras recordações para contar, que renderiam muitas e muitas páginas, afinal foram 33 anos que morei na Rua9.
Uma das lembranças, como sempre, moleque, só aprontando, afinal, essa era a nossa vida, brincar e fazer arte. É lógico que depois vinham as consequências: apanhar, com uns puxões de orelhas e umas chineladas (rs).
Lembro as fogueiras que fazíamos à noite em frente à casa da dona Elizia, em época de festas juninas, que duravam até à tarde do dia seguinte e quando eram servidos batata-doce, canjica, milho assado. Se não me engano, a dona Elizia andava descalça sobre as brasas, mas neste momento minha memória me confunde ou era uma realidade naquele momento.
Foram lembranças que nunca esqueceremos, porque foram belas e saudáveis.
Na Rua9 aprendi a andar de bicicleta, jogar taco, bolinha de gude, pião, dirigir e, mais importante, trabalhar.
Lembro uma aventura com o Delço.
O nosso vizinho, o senhor Vicente bananeiro, pai do Toninho, tinha na sua casa um depósito de banana. Ele era feirante e os funcionários faziam uma pilha de caixotes de banana que chegava na altura da laje da varanda da casa dele. Não me lembro quem fez a arte, mas deve ter sido o meu amigo Delço. Nós puxamos o caixote da base, que sustentava todos os outros e aquela pilha caiu na rua, que chegou do outro lado em frente à casa dos avós do Nambu, a dona Anália e o senhor Zezé, fazendo um barulho muito forte, a ponto de os vizinhos pensarem que era uma batida de carros. A nossa sorte foi que a rua era de terra e o movimento de carros era pouquíssimo.
Lembro que corremos para nos esconder no fundo da casa do Zé da dona Hortência. Lá havia um vão no muro da casa que dava para o terreno vazio e ficamos lá, bem quietinhos, como se nada tivéssemos a ver com aquilo tudo (risos).
Temos muitas outras lembranças, como o barracão no quintal da casa da dona Ruth, mãe dos nossos amigos Júnior, Rubão, Luiz e Chiquinho, era nossa base. Nós nos divertíamos no quintal fazendo guerra de espingardinha de elástico com munição de mamona.
Como esquecer quando nós, ainda moleques, nos juntávamos para arrastar o fusca da dona Nildete do senhor Rolando para o meio da rua, o que a deixava muito furiosa. Mas para nós era apenas diversão (rs).
À noite, depois das brincadeiras, colocávamos latas amarradas com uma linha preta no muro da casa da dona Leonor, mãe do Marcão e da Marlene, até o portão da casa da dona Donatila, ligando um lado da rua com o outro. Quando passava alguém e não enxergava a linha, as latas caíam, fazendo um grande barulho e assustando a todos (rs).
Mas aprendemos cedo e tínhamos muito respeito com os mais velhos, que eram os nossos pais e dos outros amigos, pois, apesar de aprontarmos muito, a educação era algo que fazia, e até hoje faz, parte de nossas vidas.
É isso aí, meus amigos, isso foi somente um pouco de algumas passagens, lembranças gostosas que vivemos em nossa Rua9. Grande abraço a todos.

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RITA TENENTE
AMIGOS DA RUA9
VIZINHOS DA RUA9


Passei minha infância na Rua9, tinha entre seis e sete anos quando fui morar numa casa ao lado da maravilhosa família da tia Elizia e seus oito filhos.
Lembro que brincava muito com o Zé, um dos filhos dela, que era pouco mais velho que eu, e com o Delcinho, que era mais novo que eu.
Adorava brincar na rua com os outros meninos da nossa idade, seja de bolinha de gude, subir nas árvores da casa da dona Hortênsia, jogar queimada.

Às vezes ficávamos juntos com os nossos irmãos mais velhos e outros amigos e vizinhos escutando músicas na vitrolinha em frente às nossas casas.
O que me traz ótimas recordações e o que eu mais gostava eram as cabanas que fazíamos com os lençóis pendurados no varal dos nossos quintais para brincarmos de casinha (kkk).
Outra coisa que eu e minha irmã Filó fazíamos era pular o muro do quintal da nossa casa para comer as maravilhosas sardinhas fritas que a tia Elizia fazia (que saudades, deu água na boca somente de lembrar, kkkk).
Histórias que jamais iremos esquecer, junto dos momentos que passamos na Rua9 com meu pai, o senhor José, e minha mãe, a dona Alice e minha irmã Filó.

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Fala Viadinho…… 
Falar da Rua9 é sempre um momento de lembrar uma época essencialmente muito gostosa.
Eu poderia lembrar centenas e centenas de histórias gostosas, engraçadas e até emocionantes.
Porém eu não vou contar uma história e, sim, lembrar momentos que particularmente eu curtia muito.
Mês de junho, quermesses, frio, mês do meu aniversário.
Por todos esses motivos, para mim esse mês era (e continua) especial e, nas várias etapas da nossa vida na Rua9, nós curtíamos de maneira intensa.
Durante muito tempo, houve na rua um terreno que ficava em frente à casa do senhor Eugênio e da dona Delza, pais do Ricardo, do Marco e do Carlinhos Mõnaco, e que outrora fora a casa da família do Paulinho japonês, que morou lá numa outra época bem distante.
Esse “terreno”, com o passar do tempo, meio que virou um clube dos então jovens da rua, e era nele que, entre outras tantas coisas, fazíamos nossas festas juninas.
Festas bem organizadas das quais quase todos da parte de cima da Rua9 participavam. As mães preparavam pratos típicos da época, quentão, vinho quente, e outras delícias juninas. Nós, os moleques da rua, éramos quem organizava as acomodações para os mais velhos, a fogueira, as brincadeiras e a limpeza do terreno.
Era uma delícia, todos vinham, conversavam, riam, comiam, bebiam e passavam momentos de confraternização entre vizinhos.
E quando os mais velhos iam embora, ficávamos nós em volta da fogueira contando histórias e aventuras de nossas jovens vidas.
Tudo na vida se modifica com o passar do tempo, aqueles jovens hoje já não existem mais, porém as lembranças, essas serão para sempre.
O que trago da Rua9 é a lembrança de uma infância maravilhosa, uma adolescência gostosa demais e uma juventude inigualável, que me tornaram hoje num adulto feliz e agradecido. 

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Em 1964 meus pais, eu e meus dois irmãos mais velhos, o Armando e o Fausto, nos mudamos para o Bairro do Ferreira, hoje Monte Kemel, e fomos morar numa casa pequena em um grande terreno na Rua9.
A rua era de terra não tinha luz e só poucas melhorias, mas era ali que começava a minha infância inesquecível. Durante anos, brinquei com vários amigos de bolinha de gude, pipa, taco, pião, guerra de mamona, carrinho de rolimã e futebol, tudo isso na nossa rua de terra.
Às vezes, surgiam algumas desavenças com alguns amigos, como, por exemplo, quando o ainda pequeno Toninho, meu xará, filho do Vicente bananeiro, jogou da sacada do seu sobrado um alicate na minha cabeça. Quem me socorreu foi o senhor Eugênio Mônaco, pai do Ricardo, do Marco e do Carlinhos, foi uma loucura, levei vários pontos na cabeça.
Mas tudo se resolveu amigavelmente.
A gente foi crescendo, virando adolescente e muitas outras famílias foram chegando à rua e criamos novas amizades.
Meus vizinhos, o senhor Valentin e senhor Ivan, tinham um caminhão bem antigo que durante muitos anos, nas tardes de domingo, nos levava para o campo do Matão (hoje Portal do Morumbi) para jogar bola, era pura diversão. Eles não eram bons jogadores e jogavam na zaga de sapatos, mas os sapatos eram aqueles da polícia civil, imagina, nem sei por que eles jogavam. Quem sabe era porque eles eram os donos da bola de capotão, que eles mesmos faziam, ou talvez porque nos levavam no caminhão (risos).
Mas existiam os bons de bola, como o Zé Baiano e seu irmão mais novo, o Delcinho.
Uns anos depois mudaram para a casa em frente da minha, a dona Leonor e seus dois filhos, Marlene e Marcão, com quem mantive uma grande amizade.
O Marcão era técnico da Brastemp e ensinou a vários colegas da Rua9 essa profissão, o Ricardo, conhecido como Sócio, e também o Zé, todos viveram um bom período nesta profissão.
A irmã dele, a Marlene, chegou a namorar com meu irmão Armando, quase virou minha cunhada e a nossa amizade era tão grande que o Marcão acabou sendo meu padrinho de casamento. Família inesquecível pela amizade e alegria.
Ao lado da casa da dona Leonor, tinha a família da dona Pedrina e suas filhas, Marlene, Arlete, Leni, Elezita e Eliana, e os outros dois filhos, Heleno e o caçula, Marcinho. Naquela época morava com eles sua prima Dora com quem namorei.
Não posso esquecer a família da dona Elizia e seus muitos filhos, mas foi com a Lourdinha, a Leda, o Zé e o Delço que tive boas histórias, como as reuniões, festas e bailinhos que eram organizados pelo irmão mais velhos deles, o Altamiro.
Ao lado da casa da dona Elizia, num primeiro momento morou a família da dona Alice e o seu José, com suas duas filhas, Filomena e Ritinha. Depois eles mudaram e chegou a família do animado senhor Sildo e da dona Maria, com seus filhos Sabão, Chiquinho e o caçula, Coalhada.
Como não falar do meu amigo Júnior, filho da dona Ruth. No ano em que Marcão fechou a Rua9 para brincarmos no Carnaval, tomei todas e fiquei muito mal, foi o Júnior que me levou para casa dele sem ninguém ver e me deu um copo de leite. Nossa, aí é que fiquei ruim mesmo, mas valeu a intenção (risos).
Não esqueço também o senhor Rolando e a dona Nildete, pais da Rosana e do Roberto.
A divertida dona Teresa, que adorava uma cerveja Antarctica, esposa do seu Euclides e vizinha do Paulinho japonês, que arrumava nossos carrinhos de rolimã escondido do pai dele e nos divertíamos nos carrinhos ladeira abaixo da Rua9
Assim é a vida, o tempo chega, começam novos relacionamentos, os amigos vão se casando, construindo suas famílias em outros bairros, mas as lembranças permanecem e, na medida do possível, vamos nos encontrando para lembrarmos as nossas histórias na Rua9.

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Pois bem, chegamos à Rua9 em outubro de 1972, minha mãe, Leonor, já conhecia nossa vizinha de frente, a dona Donatila, aos poucos fomos conhecendo toda a família, o senhor Agostinho e os filhos, Fausto, Armando e Toninho. Logo nos entrosamos com todos.
A convite da dona Donatila, nosso primeiro Natal almoçamos juntos. Foi um dia muito especial que eu nunca esqueci. E até hoje tenho amizade e muito carinho por eles.
Em nosso primeiro réveillon, meu irmão Marcos decidiu fazer um carnaval na rua que foi até certo horário, porque ficamos sabendo que, logo ali adiante, acontecia o baile da virada na casa da família Lima. E lá fomos nós conhecer uma turma muito animada comandada pela dona Elizia e seus filhos, todos muito simpáticos e acolhedores.
Com o tempo, ficamos mais próximos de três deles: a Leda e o Delço, amigos queridos até hoje, por coincidência, apesar da diferença de idade entre eles, fazem aniversário no mesmo dia da minha mãe e sempre nos falamos nesta data, 30 de agosto; e o Zé, que se tornou um grande amigo do meu irmão.
Também eram nossos vizinhos de muro a dona Pedrina e seus filhos, mas tive mais aproximação com a Marlene, que sempre foi muito atenciosa comigo e tenho por ela admiração e muita gratidão.
Com o passar do tempo, já conhecíamos quase que a rua toda. E como não lembrar o querido senhor Sildo, sempre tão bem-humorado, alegrava a todos por onde passava. Quando se encontrava com minha mãe, eram só risadas, a dona Maria, sua esposa, sempre sorria meio sem graça, mas aceitava a brincadeira, pois já conhecia a dupla.
Esse casal e os seus filhos, Sildinho, Chiquinho e o Coalhada, eram uma família muito especial, mas foi com o Sildinho, mais conhecido como Sabão, que ficamos mais próximos. Ele tornou-se um amigo muito querido.
E assim, além de vizinhos, todos se tornaram nossos amigos. Passamos por momentos alegres e tristes. Mas sempre juntos.
Lembranças são inúmeras, saudade muita. Dos meus pais, da família completa, da alegria da minha mãe. Nossa casa sempre cheia de gente.
Lembro o entusiasmo do meu irmão Marcão, que gostava demais de futebol e com alguns amigos formou um time de futebol veterano, levado tão a sério que até fundaram a sede do Brasilzinho F.C. no salão que alugaram na parte de baixo da casa da dona Donatila.
A sede passou então a ser ponto de encontro para comemorar o aniversário do time, reunir a turma para assistir aos jogos da Seleção, fazer as festas juninas e até confraternização de final de ano.
Bons tempos, meu irmão curtiu demais essa fase, lembro-me do quanto ele valorizava os seus amigos, inclusive o Delcinho, que por um bom período foi um dos craques do time.
E assim, ficamos na Rua9 exatamente uma década e com certeza uma das melhores da minha vida.
Com relação às pessoas que também ali moraram nesse mesmo tempo, e não foram citadas, é porque não tive a oportunidade de uma aproximação maior. Mesmo assim, lembro-me de cada umas delas, que, ao passar pela nossa casa, tinham a atenção de nos dar um aceno, um sorriso, um cumprimento, gestos de pessoas educadas.
Para mim esse era o encanto da Rua9, não seria tão querida e lembrada, se não fosse pelas pessoas que ali passaram e viveram cada qual seu momento.
Assim como eu, construíram sua história, é claro, muito mais longa que estes relatos, pois em dez anos muitas coisas aconteceram com convivência maior com essas pessoas.
Quero dizer a esses amigos queridos que, embora não nos encontremos com frequência, estarão sempre na minha lembrança e num cantinho do meu coração.
Delço, a turma do Unibanco, onde você trabalhou nos anos 80, percebeu seu interesse pela leitura e vontade de escrever, já apostava em você e previa que venceria e poderia tornar-se escritor. Eles acertaram.
Parabéns, amigo, continue assim, com seu otimismo, alegria de viver e valorizando sempre a amizade. Obrigado pela nossa.
Um abraço e toda minha admiração.

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Tenho em minha memória vários momentos maravilhosos que vivi nessa Rua9, onde passei toda minha infância e adolescência com meus irmãos, Sabão e Coalhada.
Porém lembro muito bem uma brincadeira que tínhamos chamada polícia e ladrão.
Nós nos dividíamos em duas equipes, que geralmente eram os mais velhos de um lado, o Sabão, o Rubão e o Ricardo, e os mais novos, eu, o Luís e o Chiquinho, filhos da dona Ruth, e o Delço.
Quando éramos presos, geralmente sofríamos castigos não muito brandos. Tanto que um dia pegaram o Chiquinho e o deixaram preso quase uma tarde inteira em um barracão que tínhamos feito no terreno ao lado da casa da dona Lúcia do senhor José.
Nesse dia, estávamos eu e o Luisinho fugindo do Sabão, que era o pior deles. Já estávamos bastante cansados quando entramos no quintal da casa da dona Hortência, onde havia uma escada encostada no muro que dava para entrar no quintal da dona Ruth, mãe do Luís e do Chiquinho.
Nesse momento, o Luisinho começou a gritar apavorado “Ele vai nos pegar, ele vai nos pegar”.
Aí tive a ideia de afastar a escada do muro e ameacei o Sabão dizendo “Não vem, não, senão eu solto a escada em cima de você”. Ele não acreditou e tive de empurrar a escada. Foi um estrago, algumas telhas quebradas, um vaso em pedaços e alguns arranhões no meu irmão, mas conseguimos escapar.
Até hoje, quando me lembro desse dia, ouço os gritos apavorados do Luís: “Ele vai nos pegar, ele vai nos pegar”.
Coisas de crianças e boas lembranças do meu passado.

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No início dos anos 60 até o final de 70, no bairro do Jardim Monte Kemel, mais precisamente na atual Rua José F. da Rocha Filho, antiga Rua9, nesta capital de São Paulo, nascia um grupo de pessoas que, com o passar dos anos, passou a fazer parte da história dos amigos da Rua9, e com muitos diferenciais em relação às pessoas de outros bairros, cidades e até mesmo de outros estados, pois existiam nessas relações de amizade da nossa rua elementos que conseguem se destacar.
Os amigos deste bairro que pertencem à última geração que jogou futebol em campo de terra, brincava de bola de gude, pulava corda, esconde-esconde, brincadeira de sela, andávamos em pernas de pau, de carrinho de rolimã, de motocicleta, carro, jogávamos pião, bola, taco, fazíamos fogueira com festinhas, dançamos lambada, forró, músicas românticas, empinávamos papagaios dos tipos raia, pipa, barrilete, carta, estrela, peixinho, ficávamos até o período da tarde lavando e fazendo manutenção em nossos carros, e à noite saíamos para passear, namorar, tomar sorvete, assistir a rachas de automóveis na USP, participávamos de quase todos os eventos noturnos e de entretenimento.
Na juventude, começaram as maiores diferenças em relação aos grupos semelhantes de cidadãos que nasceram e se relacionaram da mesma forma. Deste grupo, podemos destacar vários elementos, pois, além da amizade que permanece de 50 a 60 anos, estes amigos conseguiram se destacar em relação à parte cultural, financeira, amorosa, criando famílias, filhos e até netos; esse grupo continha em sua totalidade pessoas de índole, moral e ética, impecável, todos de um direcionamento de no mínimo bom, não existindo nenhuma ocorrência que desabonasse nenhum deles.
Hoje, todos homens formados com caráter e moral irrepreensíveis e irretocáveis, muitos deles exemplo de seres humanos para a sociedade e para os seus semelhantes, tendo em quase sua totalidade o amor, a harmonia e a sensibilidade de forma plena, todos fazendo parte da sociedade como um todo, alguns atuando no comércio, outros na área de construção, de informática, educacional, prestação de serviços e muitas outras áreas que ajudam a compor o PIB e o crescimento do país e de suas divisas.
Como se pode verificar, um grupo de crianças e adolescentes que conseguiu viver de forma plena e de maneira a se divertir, e hoje as lembranças que revivemos e estão em nossas memórias e corações, são ativadas com a seguinte senha, AMIGOS DA RUA9, este nome faz parte do passado, presente e, com certeza, do futuro de todos os amigos, pais e avós.

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Meu pai, Francisco da Costa Freitas, mais conhecido como Maranhão, apelido dado pelos amigos da época em que jogava como lateral esquerdo no Brasilzinho, foi morar com minha mãe, Dalva, e meus irmãos no Ferreira.
Eu tinha nove anos quando cheguei à Rua9, apesar de pequeno, fui apresentado pelo meu pai para meus futuros amigos, o Delço e seu irmão Zé baiano. Ele disse que eu era bom de bola, mas na verdade não era tão bom como os outros garotos da rua.
Naquele momento em que fui apresentado, começou uma grande amizade com o André, Clidinho, Toninho e Carlinhos, que tinham a mesma idade que eu e passei a fazer parte do grupo deles. Nós tínhamos um time e vivíamos jogando contra os das outras ruas, seja na quadra do Clube 9 de Julho, que ficava no final da Rua9, seja no famoso campo de terra apelidado carinhosamente de Maracaterra.
Lembro que eu e o Carlinho Mônaco não éramos muito bons de futebol e, como regra, os piores jogadores sempre iriam jogar no gol, e assim eu e o Carlinhos revezávamos nessa posição.
Já o Delço, com uns seis anos a mais do que nós, era um craque e sempre que possível nos dava umas dicas.
Sempre nas tardes de sábado, depois de fazermos a feira, vivíamos ajudando ou lavando os carros dos amigos mais velhos, como o Sabão, o Zé Gordo, e o fusquinha da dona Nildete, enquanto o Delço ficava em frente à casa da dona Tereza, mãe do Clidinho, lendo o seu jornal junto com os outros amigos. Sempre sobrava uma graninha que ganhávamos e íamos correndo comprar doce e outras besteiras na padaria do seu Ernesto, no mercadinho da dona Donatila ou comprar Yakult da japonesa que passava vendendo com seu carrinho de mão.
O tempo passou, Andrezinho foi morar em Curitiba, depois meus pais mudaram de bairro, o que foi muito difícil na minha adaptação, uma vez que sentia falta daquela atmosfera e calor familiar que meus pais tinham com os amigos da Rua9.
Eu segui a minha vida, entrei na Escola de Futebol do Jockey Clube, depois fui para Brasília jogar no Taguatinga, passei depois pelo Maranhão Atlético Clube (MAC), onde cheguei a jogar na Seleção Maranhense de juniores na Copa do Nordeste para depois ingressar ao serviço militar que concluí com honra ao mérito e segui minha atividade como atleta, participando como jogador de futebol das Olimpíadas Militares. Tempos depois, voltei para o MAC, onde tinha contrato, e fui emprestado para o Santo André de São Paulo, onde disputei os Jogos Abertos do Interior.
Aos 21 anos de idade, vim para a Alemanha morar na cidade de Munique, onde estou até os dias de hoje. Para minha alegria, encontrei com o sobrinho do Delço, o Andrezinho, em dois momentos, uma vez aqui em Munique e num outro momento em Lisboa, onde ele morou durante muitos anos, hoje o André mora em Moçambique.
O Delço andou várias vezes aqui pela Europa e não hesitou em tirar um tempo de sua vida para me visitar. Aconteceu em junho de 1992, quando ele estava participando como jornalista das Olimpíadas de Barcelona e veio me fazer uma surpresa, passando duas noites na minha casa e me senti protegido, da mesma forma como sentia quando era criança na Rua9.
Em 2018, ele esteve com a mulher e a filha em Munique, mas não conseguimos nos ver, porém nos falamos com frequência pelas redes sociais e combinamos de nos encontrar em breve aqui em Munique e prometi fazer um churrasco à moda da Alemanha (risos).
Estou com 52 anos, sou pai de um alemãozinho chamado Felix, que está com 21 anos, e gostaria de agradecer de todo coração e com profundo respeito o bom exemplo que todos vocês, meus amigos, me deram.
Afinal aquela atmosfera familiar e calorosa mostrou que tivemos uma infância de ouro na nossa Rua9.

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Tenho boas lembranças da Rua José Ferreira da Rocha Filho, conhecida como antiga Rua9.

Em janeiro de 1970, meus pais foram morar na Rua9, eu e meu irmão gêmeo, Cláudio, tínhamos dois anos de idade. Era uma rua de terra, apesar de já ter guias de concreto, tinha alguns terrenos vazios e outras casas construídas ou em construção.
O bairro estava se formando e ali nós crescemos e começamos nossa família, meu pai, o Dr. Victal, o advogado da rua, e a minha mãe, a dona Noêmia, junto com os meus irmãos Cláudio e Victal Filho, conhecido até hoje como Tatinho. Sempre moramos na mesma casa, aliás, meus pais e meu irmão ainda moram na Rua9.
Lembro-me de que aos cinco ou seis anos frequentava a casa da nossa vizinha, a dona Ruth, cujos filhos, Júnior, Rubinho, Luís e o Chiquinho, pediam para eu cantar a música do comercial do Café Seleto. Adoravam me ver cantando essa música… (risos).
Também tenho na lembrança, uma vez que saí de casa para ir atrás da minha mãe no açougue e me perdi… Todos os meus colegas da rua saíram à minha procura e me encontraram já perto da Avenida Professor Francisco Morato. Quem um dia nunca saiu de casa dizendo que ia fugir? No meu caso eu me perdi mesmo. Artes da infância (rs rs).
A lembrança mais marcante da minha adolescência eram os moços, meninos da rua, sentados na escada de entrada da casa do senhor Sildo e dona Maria para conversar, lavar seus carros, ou combinar para onde iriam nas noites dos finais de semana. Tenho a imagem do senhor Sildo, pai do Sabão, do Marcio e do Coalhada, saindo com seu radinho de pilha a ouvir os jogos do Timão e ficava nervoso quando o seu time jogava mal. Diga-se de passagem, ele e os três filhos corintianos fanáticos. Já a dona Maria sempre foi uma ótima vizinha, atenciosa com todos nós.
Em época de Copa do Mundo, fechávamos a rua com os carros para ninguém passar e todos nos reuníamos e enfeitávamos com as bandeiras do Brasil para assistirmos na garagem de alguém os jogos da Seleção e nos divertirmos com alguns petiscos e bebidas.
Também me lembro da camiseta com um logotipo da Rua9 que o Delço fez no início dos anos 90 e que representava aquela geração, que tinha mais meninos e moços do que meninas e moças na rua. Tenho guardada a camiseta até hoje.
Bons tempos em que não havia rivalidades, bullying não existia, crianças brincavam na rua até altas horas, jogavam bola, soltavam pipa, eram saudáveis e felizes. Todos se conheciam, sabíamos quem eram suas famílias, suas formações, éramos vizinhos unidos, sempre prontos para ajudar quando precisavam.
Hoje, lembrando o meu passado, percebo que tenho muito apreço por todos os vizinhos que lá moraram e ainda moram na antiga Rua9. Sinto saudades disso tudo.
E a vida vai seguindo seu rumo, alguns se casaram, formaram suas famílias, alguns se separaram ou continuam solteiros, muitos dos nossos pais partiram para o céu e muitos de nossa geração se formaram em suas carreiras, alcançaram ou não os seus sonhos, mas nunca deixamos de nos encontrar, seja em momentos de alegrias ou de tristezas.
Valeu Rua9…

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Eu e minha família mudamos, em 1970, para a Rua José Ferreira da Rocha Filho, mas, em nossas lembranças saudosistas, persiste a saudosa Rua9. Eu tinha 18 anos e junto com meus irmãos e minha mãe, a dona Pedrina, aos poucos começamos a nos familiarizar com a vizinhança.
Não vou citar nomes para não cometer injustiças por esquecimento, mas todos os moradores fizeram e fazem parte da minha vida. Recordo que fazíamos bailinhos, muito divertidos e saudáveis, com alegria e respeito, em garagens, no salão da igreja do bairro, e às vezes no sítio onde moravam e trabalhavam meus saudosos tios Afonso e Sebastiana. Tudo junto com meus primos e primas, que adoravam aquela “bagunça” saudável, pois quebrava a rotina do lugar. Lá, também aconteciam almoços, com deliciosas caipirinhas e o bom e o velho vinho Sangue de Boi, passeios em meio àquela natureza maravilhosa, com árvores frutíferas e lagos, onde alguns amigos da Rua9 passavam os finais de semana com a nossa família.
Recordo também as festas juninas com fogueira, pipoca, quentão e bandeirinhas enfeitando a rua, e ficávamos até tarde conversando, trocando ideias.
Todas essas coisas sustentavam a amizade que se tornou forte e sempre presente em nossas lembranças. Aos sábados, nos encontrávamos nos portões dos vizinhos pra jogar conversa fora, nos divertir com os fatos às vezes engraçados que aconteciam ao longo da semana, como, por exemplo, o dia em que, ao entrar no ônibus lotado para ir ao trabalho, em pé, avistei o Zé Gordo, o saudoso Zé Aderbal, filho da dona Elizia. Sempre com um sorriso largo no rosto, ele se ofereceu para segurar a minha bolsa, mas, assim que ele a pegou, reclamou: “Ô, Marlene, sua bolsa está queimando minha perna, acho que é a sua marmita!”. O ônibus inteiro caiu na gargalhada. Fiquei muito brava na hora, mas aquilo serviu de assunto para alegrar aquelas rodinhas de sábado.
Aliás, foi numa dessas tardes, que o nosso amigo da rua o Zé Magro, mais conhecido como Zé da dona Hortência, me apresentou ao amigo dele, o Edson, que não era da Rua9, mas tinha muitos amigos ali e frequentava aquela turma. Nós nos conhecemos, namoramos, casamos e moramos por pouco tempo na minha rua. Hoje moramos na Rua 7, em 2020 completaos 41 anos de casamento.
Com os amigos, fomos a muitas formaturas, aniversários, casamentos, bailinhos de garagem e idas ao Clube Pinheiros e Clube Homs. Onde tinha boa música e dança, lá estávamos todos, com muita diversão e alegria e a turma sempre junta. Muitos passeios como Roselândia, Embu e praias, enfim curtimos muito a vida.
Ficam na saudade todas as famílias, cada pessoa que constituiu a alma da Rua9.
Forte abraço aos que vivem. Saudades para os que se foram.
Na Rua9 nós éramos felizes e a gente sabia!


Obrigada, Delço.
Se eu tivesse um filho, com certeza gostaria que fosse assim como você, inteligente e amoroso com todos.
Continue assim, um grande abraço e Deus te abençoe.

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Então aqui estou, o Zé Carlos, mas sempre fui e ainda sou conhecido como o Zé da dona Hortência e um dos poucos moradores que ainda moram na nossa antiga Rua9.
Um dos eventos que eu mais lembro da minha infância foi ano de 1970, eu tinha 13 anos e a Copa do Mundo no México foi um momento marcante, lembro que ficávamos ouvindo nos radinhos de pilha ou assistindo a algumas partidas da seleção nas poucas televisões que existiam nos vizinhos e, quando a Seleção Brasileira venceu na final a Itália por 4×1 e trouxe pela terceira vez o caneco para o Brasil, a folia e a explosão transformaram a Rua9 numa festa total.
Recordo quando saí do Colégio Pedro Fonseca, onde existia somente o curso primário para ir estudar no Ginásio Estadual do Jardim Jussara, que ficava atrás da antiga Chácara do Bambu. Esta época foi uma novidade para mim, no Fonseca a classe era formada somente por meninos, já no Jussara a sala era formada com meninos e meninas e todos aproximadamente na mesma faixa de idade, o que me deixou muito empolgado no início da minha juventude.
Nesse período, eu já trabalhava de manhã e estudava à tarde. Depois, no ano seguinte, passei para o horário da noite para poder trabalhar de dia. Lembro que foi no Jussara que conheci o Edson e o irmão dele, que moravam próximo à Rua9. Com o passar do tempo, o Edson começou a frequentar a rua e apresentei o meu amigo de escola para a Marlene, filha da dona Pedrina. Um tempo depois, eles começaram a namorar e casaram. Hoje eles moram juntos na Rua 7.
Lembro também que no terreno ao lado da minha casa, lá pelo início dos anos 70, colocaram um jipe velho e, um tempo depois, uma carroceria de caminhão e durante muito tempo me diverti com os demais amigos da rua, transformando, em nossa imaginação, as sucatas na USS Enterprise do filme “Jornada nas Estrelas”, éramos crianças e nos divertíamos bastante.
Com o passar dos anos e chegando à juventude, as diversões eram outras, como as festas na rua e os bailes organizados pelo Altamiro na casa da mãe dele, a dona Elizia. Ali começam a surgir as nossas primeiras paixões, algumas se tornaram reais e outras puramente desejo.
Em determinado momento, eu e o Delço, filho da dona Elizia, fomos no meu fusquinha com duas amigas da rua nos divertir nos salões que promoviam bailinhos nas noites de sábado na cidade do Embu, dentre eles, a famosa 555. Também com Delço, no ano de 1981, fomos fazer uma entrevista de emprego no Unibanco da Raposo Tavares, nós dois fomos contratados, eu fiquei somente um mês, já o Delço trabalhou no período da madrugada por quase seis anos.
Me diverti muito nos bailes de formatura no final dos anos 70, onde junto do Zé, irmão da Leda e do Júnior, filho da dona Ruth, tivemos muitas histórias nos salões em Interlagos ou em Pinheiros. E também nos passeios no meu fusquinha vermelho pela famosa e agitada Rua Augusta e nos rachas na USP.
Mas, a partir dos anos 80, os amigos começam a namorar, casar e partem da Rua9 para construir suas famílias. Os nossos pais naturalmente foram partindo para a eternidade.
Enfim, cada um dos amigos tomou um rumo e seguiu a vida com suas famílias e nos vemos muito pouco. Eu continuo sendo o Zé da dona Hortência e sou um dos que se mantêm na mesma casa, num lugar cativo na Rua9.

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Olá, eu sou a Leda, em julho de 1965, junto com a minha mãe, Elizia, e meus três irmãos, a Lourdinha, o Zé e o Delço, chegamos a São Paulo, vindo da Bahia para nos juntarmos aos meus outros quatro irmãos que já moravam por aqui. Meu pai morreu na Bahia em 1963. Somos de uma família de duas mulheres e seis homens e fomos morar numa casa alugada de cinco cômodos no Bairro do Ferreira, na Rua9, e ali permaneci até 1991.
No final dos anos 60 e início dos anos 70, minha casa foi o ponto de chegada de muitos parentes que saíram da Bahia para se aventurar em São Paulo. A casa da dona Lizinha, minha mãe, era o porto seguro desses meus primos e primas e muitos deles fizeram amizade com nossos vizinhos e amigos, como meus primos Tide, Dão, Louro, minhas primas Deja, Lucinha e as famílias da dona Dudu de Pirituba e da família do Valteney de Santo Amaro, que durante muitos anos frequentaram nossa casa junto com os amigos da Rua9.
Estudei no Pedro Fonseca e durante muito tempo mantive amizade com a Fátima da dona Hortência, que era minha amiga do colégio. Nós nos divertíamos muito com outras amigas e vizinhas, como a Filomena, filha da dona Alice do senhor José, e sua irmã, Ritinha, a Ofélia e sua irmã, Marília, a Dora, sobrinha da dona Pedrina, a Vera da dona Linda, minha irmã Lourdinha e minha cunhada Marinalva, mulher do meu irmão Pina.
Naquela época ninguém tinha carro e a nossa diversão eram os bailes que meu irmão Altamiro fazia na pequena sala da nossa casa, onde reuníamos todos os amigos e passávamos as tardes e noites de sábados junto com meus irmãos e os queridos amigos, como os irmãos Fausto, Armando e o Toninho, filhos da dona Donatila, a Rosana da dona Nildete, o Marcos e a Marlene, da dona Leonor, a Marlene, da dona Pedrina, e também os meus primos que durante algum período moraram em casa até encontrar seus destinos.
Havia também as festas de final de ano e juninas em nossa casa, que sempre esteve de porta aberta para nossos vizinhos, e também as reuniões e rezas na casa da dona Ruth, nas quais ela adorava tocar sanfona para todos nós.
Não poderia deixar de lembrar as tardes de sábado, quando, no portão de casa, eu ficava horas e horas conversando com o meu amigo de coração, o Armando, sobre coisas da vida.
Anos depois, o meu irmão Delço assumiu esse posto passando a conversar nas tardes de domingo com a Vilminha e, depois, durante muitos anos, com a sua amiga Eliana, no mesmo portão que marcou a nossa juventude. Hoje a memória nos prega uma peça e temos dificuldade de lembrar outras coisas que foram tão marcantes na nossa infância, adolescência e juventude. Agora com o passar dos anos, temos as lembranças dos bons momentos que vivemos na nossa querida Rua9.

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Sou a Vera, filha da dona Linda, e junto com meus três irmãos mudamos para a Rua9 no início de 1966. Morávamos numa casa ao lado da família da dona Ruth e seus filhos, Júnior, Robinho, Luís e Francisco, não éramos vizinhos de muro porque entre nossas casas morava a família do senhor Ferreira e dona Noemi, pais da Vera, Nadir, Cezar e Luís.
Lembro-me da dona Ruth porque ela era uma das poucas pessoas que tinham telefone em casa naquela época e vivíamos usando seu telefone seja para ligar, seja para receber ligações dos nossos parentes e, claro, das reuniões que ela fazia na casa dela nas noites em que nos contava histórias e tocava sua sanfona. Seu filho mais velho, o Júnior, jogando conversa fora, era uma das nossas diversões.
Minha mãe, conhecida por todos como a dona Linda, era costureira e minha casa vivia sempre cheia de gente, lembro a amizade que minha mãe tinha com a dona Elizia e ela sempre ia para minha casa com seu filho caçula, o ainda pequeno Delcinho, que já era falador desde pequeno.
Foi com a Lourdinha, filha da dona Elizia, que construí uma sólida amizade, que dura até os dias de hoje. A Lourdinha tinha muitos irmãos e junto com a outra irmã dela, a Leda, nos divertíamos muito. A Leda estudava no Pedro Fonseca, eu estudava no seu Sérgio, já a minha amiga Lourdinha gostava mesmo era de uma farra e nos divertíamos nos bailes no Clube Solar de Amigos, que ficava perto da nossa casa, ou nas festinhas na casa dela.
Algumas vezes eu, a Lourdinha e os meninos da rua, como o Armando e o Davi, íamos ao Pico do Jaraguá onde passávamos a tarde inteira, lembro-me de uma vez que encontramos uma cobra no caminho e ficamos morrendo de medo.
Os anos passam e algumas lembranças nos trazem uma nostalgia deliciosa, como o cinema que havia na Avenida Francisco Morato na Vila Sonia e era conhecido como pulgueiro, e também o outro cinema na Rua Fradique Coutinho, em Pinheiros, onde nos divertíamos nas matinês, isso mesmo, matinês. Quem diria que um dia eu poderia contar isso para minhas filhas e meus netos? Saiba, nós éramos felizes e tínhamos certeza disso.
A Rua9 inteira era como se fôssemos uma família, com as meninas e os meninos. Quantas vezes fomos ao Matão, hoje o condomínio Portal do Morumbi, ver nossos amigos jogarem futebol nas tardes de domingo. O saudoso Fausto, o Zé Gordo, irmão da Lourdinha, o Armando, o Toninho, o senhor Ivan, o senhor Valentin, junto com a Leda, a Filomena, a Ofélia, passamos algumas tardes esportivas de domingo entre amigos.
O tempo passa e vamos construindo nossas vidas, no final dos anos 70, nossa família se mudou da Rua9.
Casei em 1977 e formei minha família com três lindas filhas e quatro netos, que são as minhas maiores alegrias.
E assim foi minha juventude na Rua9, ao lado dos queridos amigos e da minha amiga de sempre, Lourdinha.

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Olá, sou a Lourdinha, filha da dona Elizia, e vai ser difícil descrever em poucas linhas uma época que marcou a minha adolescência e juventude no Ferreira. Sou de uma família de oito irmãos e junto com a minha mãe fomos morar na Rua9 em julho de 1965, vindo direto do Riacho da Onça, um vilarejo do interior da Bahia.
Durante muitos anos, a minha casa foi o ponto de encontro dos meus parentes que chegavam da Bahia e dos muitos amigos que conhecemos naquela rua. Eu, já uma mocinha, nunca gostei muito de estudar, eu gostava mesmo era de me divertir e junto com a minha amiga de muro, a Filomena, filha da dona Alice, aprontamos muito, era uma época de inocência e pura felicidade. Com a Filó, a Fátima, filha da dona Hortência, a Ofélia e a minha irmã Leda curtimos muito cada um dos momentos, seja na casa da dona Ruth, que fazia suas reuniões, ou nos bailinhos na minha casa organizados pelo meu irmão mais velho, o Altamiro, ou nas muitas comemorações que fazíamos com todos os amigos em plena rua.
Nas festas juninas, acendíamos fogueiras em plena rua ou no terreno ao lado da casa da dona Hortência; no Carnaval, tínhamos as brincadeiras de esguicho; e nas famosas comemorações natalina e de final de ano reuníamos em nossa casa ou na rua todos os vizinhos e amigos.
Lembro a amiga Rosana, filha da dona Nildete e do ciumento e rigoroso pai, o senhor Rolando, que deixava a Rosana namorar com o Roberto até certa hora, mas, depois que ele ia embora, ela corria para a nossa casa e saía somente quando pontualmente, num determinado momento, o senhor Rolando batia na parede da sala da casa dele que fazia muro com a nossa e era a deixa para ela ir embora.
A Dalva, mulher do Maranhão, também foi uma querida amiga, assim como a Dora, mulher do Nambu, neto do senhor Zezé. Os jogos de cartas que o Nambu realizava na sua casa com os amigos da TV Bandeirantes eram muito famosos.
Com as brincadeiras com os moços de família da nossa rua, como o Armando, o Fausto, o Davi, o Júnior e o Edevaldo, um amigo do Armando, nos divertíamos de beijo, abraço, aperto de mão e passar aliança. Uma vez colocamos o Armando dentro de uma caixa de geladeira na casa da Filomena, nessa tarde ele estava cercado de meninas. Era pura inocência.
A dona Ruth, mãe do Júnior, era amiga de todos nós, adorava passear comigo, a minha irmã Leda, a Vera da dona Linda e outras meninas na sua DKV Vemaguet. Lembro uma vez que saímos para passear e a DKV quebrou em frente à Helfont, na Avenida Francisco Morato, e nós tivemos de sair empurrando o carro. Anos depois, eu fui trabalhar exatamente na fábrica da Helfont, isso em 1972.
Lembro o meu saudoso amigo Fausto, filho da dona Donatila. Durante muito tempo, nos divertimos nos bailes na minha casa ou em outros bailinhos na região. Às vezes, eu tinha de pedir para o pai dele, o senhor Agostinho, para que o deixasse sair com a gente. Numa ocasião, resolvemos fazer uma festa surpresa para o Armando, irmão do Fausto, e dessa vez tive de contar uma boa história para o senhor Agostinho, afinal a festa seria na casa dele.
Como esquecer a nossa vizinha de muro, a dona Nildete, mãe da Rosana, que adorava também nos levar para passear no seu fusquinha vermelho. Quantas vezes fomos com ela para Pirituba, na casa da dona Dudu, nossa parente do tempo do Riacho.
Mas a minha amiga na juventude e parceira foi a Vera, filha da dona Linda. A mãe dela era costureira e muito amiga da minha mãe. Eu me lembro da Vera, uma menina loirinha linda que encantava todos os meninos da Rua9 e do bairro.
Durante muito tempo, andamos juntas, seja nos passeios de final de semana no Pico do Jaraguá, no Horto Florestal, seja para ver nossos amigos jogando futebol no campo de terra lá no Matão, hoje Portal do Morumbi. Durante um bom período, eu e a Vera nos divertimos muito nos bailes do Clube Solar de Amigos e muitos outros bailes de formatura dos nossos amigos.
Saí da Rua9 em novembro de 1975, quando me casei e fui constituir a minha família, hoje com três filhos e cinco netos. Continuo morando na Vila Sônia e a Vera no Jardim Colombo. Sempre que possível, nos encontramos.
A Rua9 e meus amigos fazem parte da minha vida e é uma lembrança que guardo no meu coração.

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Terra do nunca.
Aos amados amigos e leitores, apresento um pequeno histórico vivenciado como agregado e testemunhal relacionado a uma época e região considerada como Terra do Nunca, marcou esse tempo um diferencial no coração de muita gente, incomparavelmente, como se fosse uma fantasia relacionada aos dias de hoje. Vamos falar das origens.
Jardim Monte Kemel é um bairro do distrito de Vila Sônia, no município de São Paulo. Nome herdado dos antigos proprietários, foi construído pela Imobiliária Kemel, responsável também pelo loteamento de outro bairro do município de São Paulo, a Cidade Kemel, no distrito de Itaim Paulista.
Nossa família, Jacob Moreira, foi enxertada nessa região por volta do ano de 1966. Nesse tempo, eu, filho mais velho de quatro irmãos — conhecido como Júnior, xará do meu pai (Aldo) — e meus irmãos Rubens, Luíz Fernando e Francisco Eduardo, morávamos na Rua Aspicuelta, Vila Madalena, em Pinheiros.
A casa era dos meus avós paternos, lembro-me até do bonde que vinha da Praça Ramos de Azevedo e passava em frente de nossa residência, faço menção a isso porque meu pai havia adquirido um plano de expansão telefônico da antiga CBT (Companhia Telefônica Brasileira), cuja ligação estava sendo feita nesse endereço um pouco antes de mudarmos para o Jardim Monte Kemel.
Nossa história começa nesse período.
Assim mudamos para Rua9, hoje conhecida com o nome de Rua José Ferreira da Rocha Filho. Fomos agraciados na compra de um imóvel em um lote de 250 m2 — financiado pelo proprietário, Sr. Manoel, por meio da emissão de infinitas promissórias, o que fez de meu pai um árduo trabalhador para honrar esse compromisso. Ao que também foi solicitada a transferência da linha telefônica para essa nova residência.
Lembranças de uma época em que a comunicação telefônica era rara e televisão branco e preto quem tinha era artigo de luxo. O rádio tocava as músicas em jabá, radionovelas, Repórter Esso, show de rádio e programas esportivos. Então nossa região inicialmente possuía dois telefones: um público no armazém do seu Zé, no final da Rua9, e o outro em nossa residência. Assim ficamos conhecidos pelos recados que recebíamos e levávamos aos nosso queridos amigos e vizinhos do bairro.
Dona Ruth, minha mãe, ficou sendo muito conhecida, quando era requisitada para a aplicação de injeções ao atender a comunidade local, promovendo então uma admiração pelo trabalho. Ela também era considerada respeitosamente pelas reuniões semanais de oração que se faziam em nossa casa.
Com o passamento do meu pai aos seus 42 anos de idade, acometido por um câncer no estômago, logo no começo de uma vivência de quatro anos nesse local, nossa família ficou abalada. Eu, aos 12 anos, meus irmãos e mãe contemplamos a dura realidade de uma grande perda.
Porem mal sabíamos que os vizinhos da Rua9 preencheriam os requisitos de uma família em momentos importantes. Experiências em vários sentidos.
Minha mãe teve de aprender a dirigir uma perua DKV Vemaguet e lidar com o público na venda de roupas e acessórios para nossa sobrevivência. Assim também ficamos conhecidos por várias pessoas em todo tipo de relacionamento comercial, social e religioso.
O nosso parque de diversões eram a rua e as reuniões na nossa casa, onde os vizinhos entravam como se fosse a sua. Uma grande família.
E assim brincávamos no quintal, fazíamos experiências, jogos de botão, taco, perna de pau, bola, bolinha de gude, pião, corda, pega-pega, esconde-esconde, carrinho de rolimã, empinávamos pipa, bicicleta. Esse foi o período da nossa infância.
Nas festas juninas, colhíamos madeira para fogueira, em torno da qual as famílias se reuniam para jogar conversa fora, soltar balão galinha feito de jornal, que subia uns 15 metros e se apagava, soltar rojão, estourar biriba e bombinha de 10 e 20 — que eram mais fortes, por isso colocávamos uma lata por cima e deixávamos estourar. Era uma alegria! Também nos deliciávamos comendo, batata-doce assada na fogueira, quentão, vinho quente e pipoca.
Nossa rua tinha um conjunto musical nas tardes de sábado, ao som de bateria, guitarra e baixo, show ao vivo na casa do Sidney.
Nos feriados do Carnaval, era comum a molecada usar esguichos para molestar os transeuntes, lembro-me de um situação em que o Sidney, na ocasião namorado da Nadir, irmã do César (Zinhola), foi com seu carro, um Citroen com câmbio no painel, buscar sua amada no trabalho — um supermercado da praça Panamericana — e convidou a mim e ao meu irmão Rubinho ao passeio.
O abençoado levou um balde cheio de água no carro e, quando chegou próximo ao ponto de ônibus, na avenida Francisco Morato, ao lado da fábrica Helfont, o Rubinho tira o balde e atira na galera gritando “É Carnaval”. De repente, o carro começa a falhar, o câmbio engripa e a galera vem correndo pra cima de nós, mas fomos salvos pelo gongo, o carro retomou e fomos embora.
O susto foi tão grande que nem pagando retomaríamos esse procedimento.
A juventude chegou junto com os bailinhos de garagem que eram realizados frequentemente na casa da dona Elizia, mãe do Altamiro, da Leda, do Delcinho ou na nossa casa.
Nessa época, o romantismo imperava ao som da Sonata ou da radiovitrola com os discos de vinil 33 rotações, as fitas K7 com seu playlist. Sem drogas ou qualquer tipo de confusão, verdadeiro ambiente familiar.
Lembro-me que existia uma linha de ônibus da Viação Bandeirantes, 6247, cujo ponto final era em frente à padaria do seu Alfredo, com destino ao Vale do Anhangabaú. Tinha um saudoso motorista chamado Vieira, morador da Rua9, que, quando ele estava conduzindo o ônibus, ninguém chegava atrasado, o cara era pé de chumbo. Para se ter uma ideia, ele dirigia na esquerda em quinta marcha com o braço na janela, parecendo dirigir um leve fusquinha. Se alguém de longe desse o sinal muito em cima, ele não parava. Ficou muito conhecido nessa época, o pessoal gostava porque ele arrepiava mesmo. Se fosse hoje, além de o radar denunciar, a turma do contra viria para cima. Era comum o comentário nos pontos de ônibus quando o pessoal falava “Hoje cheguei atrasado porque não peguei o ônibus com o Vieira”.
Quando completei 18 anos, planejamos uma festa no quintal da minha casa, convidei meus amigos do Colégio São Luís e a equipe de show Pelé Problema.
O som vindo da Rua9 arrebanhou uma galera enorme e ficou marcado para sempre. O meu irmão Rubinho era conhecido na região igual nota de dois reais, estava em todo buraco. Quando o som começou, o pessoal foi chegando, queria entrar e falava “Posso entrar? sou amigo do Jacob”. A resposta era “Qual Jacob? Aqui tem quatro”.
Existia um corredor lateral na minha casa, que dava acesso ao quintal onde estava rolando a festa, então eu deixei o meu irmão Luíz e meu vizinho Delcinho para tomar conta desse acesso. Num determinado momento, eles bloquearam duas garotas fazendo uma graça para cobrar a entrada, elas alegaram que não tinham grana para entrada e uma disse “Ceis num tem crasse”. Aí eles responderam “Agora que não entra mesmo”.
Foi uma noite inesquecível não somente para mim, mas para muitos que se divertiram e ao final teve até canja de galinha servida na madrugada. Só alegria.
Lembranças dos antigos vizinhos, do nosso lado direito, a família do Sr. Ferreira, artesão construtor de harpas, sua filha mais velha, Vera, encantava as tardes ao som desse maravilhoso instrumento.
Do lado esquerdo, tínhamos duas famílias que moravam no mesmo terreno, a da dona Hortência, com a Fátima e Zé Firmino, e a família da dona Dalila, lembro-me de seus maravilhosos bolinhos de chuva.
À frente, mais à esquerda morava a Vera, filha da dona Maria, que pelas manhas encantava os arredores com sua voz entoando canções ao arrumar a casa. Isso ficou marcado.
Nos anos 70, tínhamos um campo de futebol à nossa disposição nas tardes de domingo, que ficava no Matão, com direito a água de bica. Anos depois, construíram ali o Portal do Morumbi.
Estudei na Escola Estadual Professor Pedro Fonseca, muita história, muito aprendizado, mas o respeito e a disciplina eram alvos dessa missão. Nessa época, além de Moral e Cívica, tínhamos aula de Canto, nas quais os hinos eram aprendidos e valiam nota. Construímos grandes amizades, naquela época estudar em um colégio do governo era um privilégio. Época de um governo militar, em que havia ordem, bandido tinha medo de polícia. Época de ouro, havia oportunidade de trabalho. Quem se dedicava era recompensado. Tempos difíceis, mas valia o esforço.
Vou lembrar de uma experiência triste, mas com um final feliz, prestem muita atenção porque mexeu muito com meu emocional e espiritual. Aconteceu assim, tínhamos, bem em frente de nossa casa, um vizinho chamado senhor José, casado com a dona Lucia, ela era uma doce senhora que nos visitava constantemente. Porém seu José era sistemático e turrão, se caísse uma pipa ou uma bola em seu quintal, ele rasgava ou furava as nossas bolas. Na época tínhamos um cachorro chamado Duque, companheiro e brincalhão, tem uma foto conhecida tirada pelo Patrício, filho da dona Elizia, que está publicada na internet, na qual o Duque está junto com a família Jacob no portão em frente da nossa casa.
Pois bem, em determinada ocasião tivemos de ficar ausentes de casa por uns dias em viagem ao litoral. O Duque ficou tomando conta da casa e os vizinhos davam alimento para ele. Quando retornamos, o Duque não se encontrava na casa. Sumira. Ficamos sabendo através de testemunho que o senhor José bateu no cachorro e sumiu com ele, provavelmente por causa de latidos.
O caso foi parar na delegacia, na acareação dos fatos, o delegado constatou que o caso estreitou para o senhor José, passível de uma penalização forte. Porém deixou a minha mãe decidir se iria dar prosseguimento ou não. Então minha mãe perdoou e o fato ficou encerrado. Mas o meu coração ficou muito amargurado, nessa época eu tinha uns 17 anos.
O tempo passou, casei, constituí família e sou pai de duas meninas. Mas cada vez que via a pessoa do senhor José, esse homem me remoía o coração de raiva e rancor, ele velho e eu moço.
Porém, aos 38 anos, tive uma experiência maravilhosa com Deus, entreguei meu coração ao Senhor Jesus Cristo de Nazaré, recebendo-o em meu coração confessando-o como meu salvador e Senhor, pedi para colocar meu nome no livro da vida, arrependi-me dos pecados e pedi seu perdão. Me senti leve e em paz.
Mas para que o amor de Deus se cumprisse, eu também deveria perdoar as ofensas que me fizeram, essa é a essência do amor de Deus, o perdão.
O tempo passou e um dia minha mãe me ligou e me disse que ficara sabendo que o senhor José estava nas últimas, os médicos deram 15 dias de vida para ele, e perguntou “Você não quer visitá-lo?”.
Pois bem, respondi que estava em paz e falei “Avisa a dona Lucia quando é a visita que eu vou até lá”. Tudo marcado, fui visitá-lo. Quando cheguei e abri a porta do quarto, ele ficou espantado já velho e moribundo, então falei para ele “O senhor me magoou muito no passado, mas da forma que o Senhor Jesus Cristo me perdoou eu também te perdoo e te convido a aceitar a Jesus Cristo como Senhor e salvador em sua vida”. Ele concordou e fizemos uma oração de fé e entrega.
Conclusão, ele recebeu alta e ficou mais um bom tempo no convívio da família. Acredito que ocorreu um verdadeiro milagre, hoje eu fico cada vez mais convencido que o amor de Deus em obediência na aplicação da sua palavra é poderosamente vivo e eficaz. Estou em paz.
Teria ainda várias histórias para relatar num período de alegrias e livramentos que vivi através dos relacionamentos que foram construídos e oportunos, nada foi ou é por acaso.
Hoje Jardim Monte Kemel, ou Ferreira para alguns, mudou muito. Fomos agraciados com a estação Vila Sônia do Metrô. Tudo mudou, como um tempo que passou mas deixou um legado de amigos de uma época muito especial e marcante em nossos corações.
Aí, eu declaro: nunca é tarde para começar. Nunca é tarde para perdoar.
Agradecendo a oportunidade deste breve relato, tem muita gente que não mencionei neste depoimento, pois ficaria um artigo volumoso, mas saibam que amo a todos vocês, meus amigos de infância, adolescência e juventude, aos nossos pais e mães que ainda estão vivos e quero deixar a minha estima e consideração por todos, até os que já não estão em nosso meio.
Deus abençoe abundantemente a todos!

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RIACHO DA ONÇA
SANTA MARINELA – ITALIA
LAS VEGAS

Delci Lima,,
Nasci no Riacho da Onça, um vilarejo no interior da Bahia, uns 290 quilômetros de Salvador.
Junto com a minha mãe, dona Elizia, minhas duas irmãs, Leda, Lourdinha, e meu outro irmão, Zé, em julho de 1965 chegamos a São Paulo para nos juntarmos aos meus outros irmãos, Altamiro, Patrício, Joãozinho e o Pina, que já moravam e trabalhavam na cidade.
Fomos morar numa casa alugada de cinco cômodos na Rua9, no Bairro do Ferreira, hoje Jardim Monte Kemel.

Durante 26 anos, vivi as melhores aventuras e histórias na minha infância, adolescência e juventude.
Com meus queridos amigos da Rua9, construí amizades que duram até hoje, ali formei minha personalidade, meu caráter e comecei a construir e meu desejo de infância, ser um profissional de comunicação. No final dos anos 90 me formei em Publicidade e depois em Jornalismo e atraves da minha agencia LZ12Comunicação, hoje, roteirizo, produzo e dirigo vídeos e programas para queridos clientes desde 1990.

Aos 15 anos, fiquei bêbado pela primeira e penúltima vez no Embu, no sítio dos tios da Marlene da dona Pedrina, motivado por uma paixão juvenil pela Vilma, uma querida amiga que frequentava a Rua9 e era da minha turma da 8ª série da Escola Estadual Professor Pedro Fonseca.
Um amor platônico que permaneceu por vários anos e deu origem em 1985 minha inspiração para criar a personagem Vera do meu livro “Nunca é Tarde para Começar”

PS: Em 22 de outubro de 2023, no encontro que eu e o Armando organizamos com os amigos da Rua9, convidamos a Vilma e seu marido Sidney e tive a oportunidade de contar essa história para ela. Afinal a personagem Vera foi inspirada nela.
Coisas da juventude.


Nesse período, me divertia dançando ao som dos Bee Gees, Roberto Carlos, Abba, Jackson Five, Simon & Garfunkel e outros românticos da época, nos bailinhos da minha casa.
Uns anos depois, me encantei pelo futebol, que, durante muito tempo, foi o meu mundo particular, seja jogando no início no Matão, Maracaterra, seja brilhando nos muitos campos da várzea pela cidade de São Paulo e, depois, em Jundiaí, onde joguei por mais de 15 anos no FASP com os amigos do querido Reinaldo Duque nas manhãs de sábado.

Quando cheguei a São Paulo e até o início dos anos 80, todos me chamavam de Delço, tanto é que nos meus documentos no Pedro Fonseca, até a 7ª série, consto como Delço Batista de Lima. Um dia, numa aula, o professor Paulo pediu que todos os alunos levassem suas certidões de nascimento e, naquele momento, percebemos que havia alguma coisa escrita errado em nossas certidões.
A partir daí, descobri que o meu nome de registro era Delci Batista de Lima.

Meus amigos da Rua9 sempre me chamaram, e continuam me chamando, de Delço e alguns deles ainda nem sabem que me chamo Delci.
Em 1985, quando eu trabalhava de madrugada no Unibanco da Raposo Tavares, fiquei mais de um ano numa sala sozinho assinando poucos documentos e aproveitei para ler muitos livros e, numa daquelas madrugadas, tive a vontade de contar uma história de amigos e, assim, comecei a escrever o livro:
“Vera. Nunca é tarde para começar”.

Algumas curiosidades sobre meu livro:
Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real é da minha pura imaginação, que começou em 1985, com meus personagens, sendo;


Vera Rodrigues, 35 anos.
É fruto da minha imaginação: em 1985, ainda com o coração partido por um amor platônico, sonhava com uma mulher igual à Vera.
Em 2002, encontrei na minha mulher, Laura, o que sonhava.
Laura é mãe da nossa Luísa Lima que nasceu em 22 de março de 2006.

Em 2020, Laura foi minhas inspiração na criação das personagens Vera e Marcia.

Carlos Kaier, 34 anos.
Nele, os mais íntimos podem perceber um pouco da minha personalidade, mas com certeza é a pessoa que eu sempre procurei ser.

Marcia Vidigal, 26 anos.
Sempre acreditei em amizades, seja com homens, seja com mulheres, e Marcia é essa amiga, linda, maravilhosa e forte, ela representa minhas amigas, Eliana Ribeiro, Flavia Valentini, Marta Vieira, Cristiane Lopes, e muitas outras. Apesar de as pessoas não acreditarem que sempre foram minhas amigas, nada mais do que amigas.

Renata Roberta Duarte, 34 anos.
Simplesmente uma mulher deslumbrada, que curte a vida na plenitude da liberdade e da loucura. Profissional e apaixonada pela vida como muitas alunas com quem compartilhei bons momentos na faculdade FIAM.

Marco Antônio Lopes, 34 anos.
Uma homenagem a três grandes amigos e irmãos que a vida me deu. Todos completamente diferentes um do outro:
Marco Mônaco, amigo da Rua9 desde o início dos anos 60; Sabão, amigo da Rua9 desde o início dos anos 70; e meus socio e saudoso amigo Marinho Guzman, sócio e amigo desde 1988, que nos deixou em janeiro de 2023.

Luísa Rodrigues.
Simplesmente minha filha Luísa. Com S e acento, que desde 22 de março de 2006 ilumina nossas vidas. Uma filha que idealizei, um dia, quando comecei a escrever este livro, em 1985, e imaginei ser pai.

Mãe do Carlos.
Uma homenagem à minha mãe, dona Elizia, e a todas as mães dos meus queridos amigos da Rua9, dona Linda, dona Ruth, dona Lucia, dona Hortência, dona Noemia, dona Alice, dona Maria do senhor Sildo, dona Tereza, dona Nildete, dona Delza, dona Pedrina, dona Maria do senhor Vicente, dona Donatila e dona Leonor.

Rosa, mãe da Vera. Pura imaginação inspirada na dona Zelia.

Nilza, tia da Vera. Uma homenagem a todas as tias que se tornaram mães sem nunca parirem.

Nildete e o senhor Rolando
Meus vizinhos de muro da casa onde eu morava na Rua9. Até hoje sinto o cheiro delicioso do molho de macarrão que ela fazia nas manhãs de domingo.
O senhor Rolando me ajudou muito na minha infância. Eles me tratavam como um filho.

Dr. Mario
Uma das pessoas mais generosas que encontrei pela vida, porém difícil de conviver, às vezes mal compreendido, às vezes, não! Mas com um coração enorme, um amigo querido que me ensinou e ajudou muito profissionalmente, o saudoso Roney Cesar Signorini, diretor da faculdade FIAM.

Georges Gazale
Meu primeiro patrão em 1975.
Convivi com o senhor Georges em dois momentos distintos e ele sempre me tratou com muito carinho e me contou muitas histórias incríveis sobre personalidades políticas e outras pessoas importantes deste país. Naquele momento, aos 15 anos, comecei a aprender sobre as diferenças, convivi com pessoas muito ricas e poderosas e todos sempre me trataram como igual, durante um periodo falava diariamente por telefonecom o Presidente da Republica, João Batista de Oliveira Fiqueiredo, que era o grande amigo do senhor George.
Sem dúvida, adoraria ter escrito a biografia dele, não deu tempo.

Tadeo
Uma homenagem e gratidão ao amigo Pedro Tadeo Zorzetto, que me levou para as Olimpíadas de Barcelona em 92 e durante mais de 10 anos me ensinou tudo que sei sobre telejornalismo, quando trabalhamos juntos como professores de telejornalismo na faculdade FIAM.

Senhor Fabio
Um agradecimento ao Fabio Mazzonetto, um grande amigo e parceiro profissional desde 1996.
Presidente da Phorte Educacional, um visionário da Educação Continuada.

Sr. Claudio, pai da Marcia.
Uma homenagem a todos os meus ex-alunos de telejornalismo da faculdade FIAM e a alguns queridos amigos jornalistas, como Flávio Prado, Heródoto Barbeiro, Márcio Moron, Cléber Machado, Marcio Bernardes, Roberto Nonato, Milton Jung, minha querida amiga Helô Pinheiro e tantos outros.

Rose e Maria
Uma homenagem às minhas duas queridas irmãs, Leda e Lourdinha, que representam meus outros irmãos; Altamiro, Patricio, Joãozinho, Pina e Zé –, que estão junto à nossa mãe em algum lugar.

Então, naquele período, escrevi aproximadamente umas 50 páginas usando uma caneta Kilométrica, pois não existiam ainda os famosos computadores com os seus Words. Saí do Unibanco em 1986 e nunca mais toquei no livro.
Apesar de a história toda estar na minha cabeça, ela ficou guardada por mais de 35 anos numas das gavetas onde colocamos nossas lembranças.

Num determinado dia, em 2020, conversando com minha filha Luísa, que tinha 14 anos na época, ela pediu e começou a ler o que eu tinha escrito e me convenceu de que eu deveria terminar o livro.
E foi assim, durante o capítulo da história que passamos em 2020 em virtude da pandemia mundial causada pela Covid19 que, no período inicial do confinamento, sempre com a minha filha Luísa ao meu lado, comecei a atualizar e finalizei o livro, hoje com o título “Nunca é tarde para começar”.

Como vocês perceberam, o livro é uma obra de ficção sobre uma história de amor e amizade, mas não tem nenhuma ligação direta com os amigos da Rua9, apesar de, em vários momentos, fazer referências a vocês, meus queridos amigos de infância da Rua9 e outros que a vida me presenteou.

Um grande beijo no coração.

Ser feliz sempre.