Família Jacob Moreira

Rute Jacob Moreira – Dona Rute

Querida dona Rute ……………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………

Aldo Jacob Moreira – Junior

Terra do nunca.

Aos amados amigos e leitores, apresento um pequeno histórico vivenciado como agregado e testemunhal relacionado a uma época e região considerada como Terra do Nunca, marcou esse tempo um diferencial no coração de muita gente, incomparavelmente, como se fosse uma fantasia relacionada aos dias de hoje. Vamos falar das origens.

Jardim Monte Kemel é um bairro do distrito de Vila Sônia, no município de São Paulo. Nome herdado dos antigos proprietários, foi construído pela Imobiliária Kemel, responsável também pelo loteamento de outro bairro do município de São Paulo, a Cidade Kemel, no distrito de Itaim Paulista.

Nossa família, Jacob Moreira, foi enxertada nessa região por volta do ano de 1966. Nesse tempo, eu, filho mais velho de quatro irmãos — conhecido como Júnior, xará do meu pai (Aldo) — e meus irmãos Rubens, Luíz Fernando e Francisco Eduardo, morávamos na Rua Aspicuelta, Vila Madalena, em Pinheiros.

A casa era dos meus avós paternos, lembro-me até do bonde que vinha da Praça Ramos de Azevedo e passava em frente de nossa residência, faço menção a isso porque meu pai havia adquirido um plano de expansão telefônico da antiga CBT (Companhia Telefônica Brasileira), cuja ligação estava sendo feita nesse endereço um pouco antes de mudarmos para o Jardim Monte Kemel.

Nossa história começa nesse período.

Assim mudamos para Rua9, hoje conhecida com o nome de Rua José Ferreira da Rocha Filho. Fomos agraciados na compra de um imóvel em um lote de 250 m2 — financiado pelo proprietário, Sr. Manoel, por meio da emissão de infinitas promissórias, o que fez de meu pai um árduo trabalhador para honrar esse compromisso. Ao que também foi solicitada a transferência da linha telefônica para essa nova residência.

Lembranças de uma época em que a comunicação telefônica era rara e televisão branco e preto quem tinha era artigo de luxo. O rádio tocava as músicas em jabá, radionovelas, Repórter Esso, show de rádio e programas esportivos. Então nossa região inicialmente possuía dois telefones: um público no armazém do seu Zé, no final da Rua9, e o outro em nossa residência. Assim ficamos conhecidos pelos recados que recebíamos e levávamos aos nosso queridos amigos e vizinhos do bairro.

Dona Ruth, minha mãe, ficou sendo muito conhecida, quando era requisitada para a aplicação de injeções ao atender a comunidade local, promovendo então uma admiração pelo trabalho. Ela também era considerada respeitosamente pelas reuniões semanais de oração que se faziam em nossa casa.

Com o passamento do meu pai aos seus 42 anos de idade, acometido por um câncer no estômago, logo no começo de uma vivência de quatro anos nesse local, nossa família ficou abalada. Eu, aos 12 anos, meus irmãos e mãe contemplamos a dura realidade de uma grande perda.

Porem mal sabíamos que os vizinhos da Rua9, preencheriam os requisitos de uma família em momentos importantes. Experiências em vários sentidos.

Minha mãe teve de aprender a dirigir uma perua DKV Vemaguet e lidar com o público na venda de roupas e acessórios para nossa sobrevivência. Assim também ficamos conhecidos por várias pessoas em todo tipo de relacionamento comercial, social e religioso.

O nosso parque de diversões eram a rua e as reuniões na nossa casa, onde os vizinhos entravam como se fosse a sua. Uma grande família.

E assim brincávamos no quintal, fazíamos experiências, jogos de botão, taco, perna de pau, bola, bolinha de gude, pião, corda, pega-pega, esconde-esconde, carrinho de rolimã, empinávamos pipa, bicicleta. Esse foi o período da nossa infância.

Nas festas juninas, colhíamos madeira para fogueira, em torno da qual as famílias se reuniam para jogar conversa fora, soltar balão galinha feito de jornal, que subia uns 15 metros e se apagava, soltar rojão, estourar biriba e bombinha de 10 e 20 — que eram mais fortes, por isso colocávamos uma lata por cima e deixávamos estourar. Era uma alegria! Também nos deliciávamos comendo, batata-doce assada na fogueira, quentão, vinho quente e pipoca.

Nossa rua tinha um conjunto musical nas tardes de sábado, ao som de bateria, guitarra e baixo, show ao vivo na casa do Sidney.

Nos feriados do Carnaval, era comum a molecada usar esguichos para molestar os transeuntes, lembro-me de um situação em que o Sidney, na ocasião namorado da Nadir, irmã do César (Zinhola), foi com seu carro, um Citroen com câmbio no painel, buscar sua amada no trabalho — um supermercado da praça Panamericana — e convidou a mim e ao meu irmão Rubinho ao passeio.

O abençoado levou um balde cheio de água no carro e, quando chegou próximo ao ponto de ônibus, na avenida Francisco Morato, ao lado da fábrica Helfont, o Rubinho tira o balde e atira na galera gritando “É Carnaval”. De repente, o carro começa a falhar, o câmbio engripa e a galera vem correndo pra cima de nós, mas fomos salvos pelo gongo, o carro retomou e fomos embora.

O susto foi tão grande que nem pagando retomaríamos esse procedimento.

A juventude chegou junto com os bailinhos de garagem que eram realizados frequentemente na casa da dona Elizia, mãe do Altamiro, da Leda, do Delcinho ou na nossa casa.

Nessa época, o romantismo imperava ao som da Sonata ou da radiovitrola com os discos de vinil 33 rotações, as fitas K7 com seu playlist. Sem drogas ou qualquer tipo de confusão, verdadeiro ambiente familiar.

Lembro-me que existia uma linha de ônibus da Viação Bandeirantes, 6247, cujo ponto final era em frente à padaria do seu Alfredo, com destino ao Vale do Anhangabaú. Tinha um saudoso motorista chamado Vieira, morador da Rua9, que, quando ele estava conduzindo o ônibus, ninguém chegava atrasado, o cara era pé de chumbo. Para se ter uma ideia, ele dirigia na esquerda em quinta marcha com o braço na janela, parecendo dirigir um leve fusquinha. Se alguém de longe desse o sinal muito em cima, ele não parava. Ficou muito conhecido nessa época, o pessoal gostava porque ele arrepiava mesmo. Se fosse hoje, além de o radar denunciar, a turma do contra viria para cima. Era comum o comentário nos pontos de ônibus quando o pessoal falava “Hoje cheguei atrasado porque não peguei o ônibus com o Vieira”.

Quando completei 18 anos, planejamos uma festa no quintal da minha casa, convidei meus amigos do Colégio São Luís e a equipe de show Pelé Problema.

O som vindo da Rua9 arrebanhou uma galera enorme e ficou marcado para sempre. O meu irmão Rubinho era conhecido na região igual nota de dois reais, estava em todo buraco. Quando o som começou, o pessoal foi chegando, queria entrar e falava “Posso entrar? sou amigo do Jacob”. A resposta era “Qual Jacob? Aqui tem quatro”.

Existia um corredor lateral na minha casa, que dava acesso ao quintal onde estava rolando a festa, então eu deixei o meu irmão Luíz e meu vizinho Delcinho para tomar conta desse acesso. Num determinado momento, eles bloquearam duas garotas fazendo uma graça para cobrar a entrada, elas alegaram que não tinham grana para entrada e uma disse “Ceis num tem crasse”. Aí eles responderam “Agora que não entra mesmo”.

Foi uma noite inesquecível não somente para mim, mas para muitos que se divertiram e ao final teve até canja de galinha servida na madrugada. Só alegria.

Lembranças dos antigos vizinhos, do nosso lado direito, a família do Sr. Ferreira, artesão construtor de harpas, sua filha mais velha, Vera, encantava as tardes ao som desse maravilhoso instrumento.

Do lado esquerdo, tínhamos duas famílias que moravam no mesmo terreno, a da dona Hortência, com a Fátima e Zé Firmino, e a família da dona Dalila, lembro-me de seus maravilhosos bolinhos de chuva.

À frente, mais à esquerda morava a Vera, filha da dona Maria, que pelas manhas encantava os arredores com sua voz entoando canções ao arrumar a casa. Isso ficou marcado.

Nos anos 70, tínhamos um campo de futebol à nossa disposição nas tardes de domingo, que ficava no Matão, com direito a água de bica. Anos depois, construíram ali o Portal do Morumbi.

Estudei na Escola Estadual Professor Pedro Fonseca, muita história, muito aprendizado, mas o respeito e a disciplina eram alvos dessa missão. Nessa época, além de Moral e Cívica, tínhamos aula de Canto, nas quais os hinos eram aprendidos e valiam nota. Construímos grandes amizades, naquela época estudar em um colégio do governo era um privilégio. Época de um governo militar, em que havia ordem, bandido tinha medo de polícia. Época de ouro, havia oportunidade de trabalho. Quem se dedicava era recompensado. Tempos difíceis, mas valia o esforço.

Vou lembrar de uma experiência triste, mas com um final feliz, prestem muita atenção porque mexeu muito com meu emocional e espiritual. Aconteceu assim, tínhamos, bem em frente de nossa casa, um vizinho chamado senhor José, casado com a dona Lucia, ela era uma doce senhora que nos visitava constantemente. Porém seu José era sistemático e turrão, se caísse uma pipa ou uma bola em seu quintal, ele rasgava ou furava as nossas bolas. Na época tínhamos um cachorro chamado Duque, companheiro e brincalhão, tem uma foto conhecida tirada pelo Patrício, filho da dona Elizia, que está publicada na internet, na qual o Duque está junto com a família Jacob no portão em frente da nossa casa.

Pois bem, em determinada ocasião tivemos de ficar ausentes de casa por uns dias em viagem ao litoral. O Duque ficou tomando conta da casa e os vizinhos davam alimento para ele. Quando retornamos, o Duque não se encontrava na casa. Sumira. Ficamos sabendo através de testemunho que o senhor José bateu no cachorro e sumiu com ele, provavelmente por causa de latidos.

O caso foi parar na delegacia, na acareação dos fatos, o delegado constatou que o caso estreitou para o senhor José, passível de uma penalização forte. Porém deixou a minha mãe decidir se iria dar prosseguimento ou não. Então minha mãe perdoou e o fato ficou encerrado. Mas o meu coração ficou muito amargurado, nessa época eu tinha uns 17 anos.

O tempo passou, casei, constituí família e sou pai de duas meninas. Mas cada vez que via a pessoa do senhor José, esse homem me remoía o coração de raiva e rancor, ele velho e eu moço.

Porém, aos 38 anos, tive uma experiência maravilhosa com Deus, entreguei meu coração ao Senhor Jesus Cristo de Nazaré, recebendo-o em meu coração confessando-o como meu salvador e Senhor, pedi para colocar meu nome no livro da vida, arrependi-me dos pecados e pedi seu perdão. Me senti leve e em paz.

Mas para que o amor de Deus se cumprisse, eu também deveria perdoar as ofensas que me fizeram, essa é a essência do amor de Deus, o perdão.

O tempo passou e um dia minha mãe me ligou e me disse que ficara sabendo que o senhor José estava nas últimas, os médicos deram 15 dias de vida para ele, e perguntou “Você não quer visitá-lo?”.

Pois bem, respondi que estava em paz e falei “Avisa a dona Lucia quando é a visita que eu vou até lá”. Tudo marcado, fui visitá-lo. Quando cheguei e abri a porta do quarto, ele ficou espantado já velho e moribundo, então falei para ele “O senhor me magoou muito no passado, mas da forma que o Senhor Jesus Cristo me perdoou eu também te perdoo e te convido a aceitar a Jesus Cristo como Senhor e salvador em sua vida”. Ele concordou e fizemos uma oração de fé e entrega.

Conclusão, ele recebeu alta e ficou mais um bom tempo no convívio da família. Acredito que ocorreu um verdadeiro milagre, hoje eu fico cada vez mais convencido que o amor de Deus em obediência na aplicação da sua palavra é poderosamente vivo e eficaz. Estou em paz.

Teria ainda várias histórias para relatar num período de alegrias e livramentos que vivi através dos relacionamentos que foram construídos e oportunos, nada foi ou é por acaso.

Hoje Jardim Monte Kemel, ou Ferreira para alguns, mudou muito. Fomos agraciados com a estação Vila Sônia do Metrô. Tudo mudou, como um tempo que passou mas deixou um legado de amigos de uma época muito especial e marcante em nossos corações.

Aí, eu declaro: nunca é tarde para começar. Nunca é tarde para perdoar.

Agradecendo a oportunidade deste breve relato, tem muita gente que não mencionei neste depoimento, pois ficaria um artigo volumoso, mas saibam que amo a todos vocês, meus amigos de infância, adolescência e juventude, aos nossos pais e mães que ainda estão vivos e quero deixar a minha estima e consideração por todos, até os que já não estão em nosso meio.

Deus abençoe abundantemente a todos!

Rubens Jacob Moreira

Olá, meus amigos, cheguei à Rua9 aos 6 anos de idade juntamente com meu pai, Aldo, minha mãe, Rute, e meus outros três irmãos, Júnior, Luiz e Francisco, e permaneci ali morando até os 29 anos, quando casei e fui morar em outro bairro.
Tenho ótimas lembranças da nossa rua, vou contar algumas que aconteceram comigo e outras pessoas envolvidas certamente irão se lembrar.
Não me lembro o ano exato, mas eu e meus irmãos ganhamos de presente de Natal da minha mãe, a dona Ruth, uma bicicleta. Era uma Monark Jet Black dobrável simplesmente linda, meus irmãos e eu fazíamos rodízio para andar com o presente natalino.
E nesse dia era minha vez de andar com a bike, eu todo pomposo pedalando pela Rua9. Nessa ocasião as ruas do bairro estavam sendo asfaltadas. Quando eu estava passando em frente da casa do Delço, hoje Delci Lima, lá estava a Leda, sua irmã, que iria se formar naquele final de semana no ginásio e pediu para levá-la para dar uma volta de bicicleta. Eu de pronto e imediato atendi ao seu pedido. Muito bem, começamos pela Rua9 e dobramos a esquerda para entrar na Rua 23, eu, todo empolgado com a Leda na garupa, sentei o pé e desci a referida rua a mil por hora, mas de repente, no meio da descida, não lembro se perdi a direção ou fui fechado e o inevitável aconteceu: meti a bike na guia, a minha bicicleta virou uma sanfona e a Leda se esfolou toda, teve de remodelar seu vestido de formatura pois ralou o braço.
Muito bem, e para contar para meus irmãos e minha mãe que eu tinha acabado com a bicicleta? Aí surgem os meus amigos e vizinhos Ricardo Monaco e o Sabão, que deram a ideia de levarmos a bike para a garagem dos Monaco pra tentar fazer o reparo e nós três baixamos a porta e começamos tentar recuperar a bicicleta. Mas nesse momento meu irmão Luiz ficou sabendo e, juntamente com o Delço, ficou de plantão na porta da garagem onde estávamos tentando reparando a bike, foi um deus nos acuda.
Fizemos de tudo para consertar o impossível, até que desistimos e, abrindo a porta da garagem, eles viram o estrago que eu tinha feito com o presente que ganhamos da nossa mãe.
Resultado, a bicicleta nunca mais foi a mesma e a Leda foi machucada para sua formatura.
Outra boa lembrança que tenho da minha infância foi quando, menino, trabalhei com os amigos da família da dona Donatila. Durante um período, fui de madrugada entregar leite Leco com o Fausto e tempos depois trabalhei ajudando no mercadinho que ela tinha no salão embaixo do seu sobrado, aliás um mercadinho que deu o primeiro emprego a muitos garotos da Rua9, como do Delço e outros. Naquela época não existia o Jovem Aprendiz.
Outra história que marcou a minha juventude foi a viagem que fiz em fevereiro de 1986 com meu irmão mais novo, Chiquinho, e meus amigos Sabão e Delço para Maceió.
Saímos de São Paulo na Brasília do Sabão, isso mesmo uma Brasília sem ar-condicionado nem direção hidráulica e percorremos 7.100 quilômetros numa aventura pelo Rio de Janeiro, Cachoeiro de Itapemirim, Vitória do Espírito Santo, Casimiro de Abreu, Porto Seguro, Ilhéus, Itaparica, Salvador, Subaúma, Aracaju, Maceió e Praia do Francês.
Segundo o Delço, que tem viajado muito pela Europa, Estados Unidos e mundo afora, foi uma das melhores viagens da vida dele.
Com certeza posso confirmar, foi um momento de liberdade, descoberta e muita aventura que vamos levar para a vida toda.
Um grande abraço meus, amigos!

Querido Luiz, parceiro da minha infância

Francisco Eduardo Jacob Moreira

Grande Chicão………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………………..