MEU ENCONTRO
Georges Gazale
Georges Gazale
Apesar de ter somente 15 anos eu era o braço direito da dona Yone, fazia de tudo e aprendi um bocado. O seu Georges sempre gostou muito de mim e sempre me chamava para conversar e me apresentava para os seus amigos, todos empresários e com muito dinheiro.
O Restaurante L’Aulberg era o ponto de encontro dele com os amigos, e que amigos.
E o grande amigo dele naquele momento era o presidente da República João Baptista de Oliveira Figueiredo, isso mesmo e pelo menos duas vezes por semana eu falava por telefone com ele, imagina, com 15 anos e o presidente me chamando de garoto e o seu Georges fazia questão de me chamar a mesa e me apresentar para os amigos. Ele era uma pessoa muito generosa e distribuía boas gorjetas para todos nós.
Sai do restaurante para jogar futebol, apesar de todo o esforço e apelo do seu Georges e da dona Yone para que eu ficasse.
Em 1987 quando eu estava fazendo o último ano do curso de Publicidade na FIAM, eu trabalhava no Unibanco e resolvi sair para ir estagiar em alguma agência de publicidade, mas precisa de dinheiro para continuar estudando, então liguei para o seu Georges e falei se ele poderia me ajudar a arrumar uma bolsa de estudo na FIAM, afinal ele era amigo do professor Edevaldo Alves da Silva, dono da FMU/FIAM/FAAM, até aquele momento eles eram muito amigos.
Ai por telefone e diz, não vou pedir nada para o Edevaldo, vem aqui na 25 de março que vou pagar a sua faculdade. E foi assim que completei o último ano de Faculdade pago pelo seu George.
É bom dizer que fiz estágio na DPZ, CIA Paulista de Propaganda e na Artplan do Roberto Medina, que estava iniciando o Rock Rio. Logo que me formei em Publicidade fui ao escritório dele e mostrei meu diploma de publicitário e agradeci a ajuda que ele me deu.
Em 2002 fiquei sabendo que o seu Georges sofreu um atentado, levando uns tiros quando saia do seu escritório nos jardins, então resolvi visitá-lo.
Quando chego no escritório quem me atende é a Marina, fiel secretaria desde o tempo da GG, então ela me leva até a sala dele e me apresenta, num primeiro momento ele não lembra de mim, então eu falo que era aquele garoto que trabalhou no L’Auberg da Pamplona e saiu para jogar futebol.
Ai ele olha para mim e diz, eu não vi voce jogar em num time.
Eu falei, pois é, não joguei em nenhum time profissional. (mas isso é outra história).
Então conversamos e eu disse que era publicitário, ai ele levanta da mesa dele pega um folder e fala, já que voce é publicitário atualiza esse folheto e traz para mim na semana que vem, a Marina vai te passar as outras informações.
Bom, uma semana depois eu levei o folder para ele aprovar. (Ele estava importando as Balas Halter e o folder estava em inglês e tive que traduzir, fazer novas fotos e novo Lay out).
E assim voltei a ter contato com ele e produzir algumas peças para a Manteiga Star Light que ele também estava importando e a linha de pistache Au’ Liban que começou a vender.
Um dia me liga e diz, vem aqui na minha casa, preciso falar contigo.
Imediatamente vou para a casa dele no Jockey Club, ali voltei ao ano de 1977 quando todos os dias pela manhã eu ia na casa dele para assinar uns cheques e sempre ele me atendia no quarto.
E desta vez não foi diferente, entro no quarto e ele pede para sentar-se e diz, olha garoto, estou querendo abrir novamente o Restaurante Au’ Liban e gostaria que voce cuidasse de toda a comunicação visual do restaurante, voce pode?
Imagina!
Uns bons anos depois estou novamente trabalhando com a dona Yone e junto com ela participei de todo o processo de reforma, decoração, contratação e cardápio do novo Au’ Liban.
Neste momento tive a grata surpresa de conhecer e ficar amigo da outra filha do seu Georges, a Fernanda Gazale, pessoa querida que nos tornamos amigos e também tem um carinho especial pela minha mulher Laura que chama de minha loira e adora a nossa filha Luísa.
O Restaurante foi montado onde era o escritório dele na Av. 9 de julho com a Rua João Cachoeira e como ele não andava muito bem de saúde mudou o escritório para um dos cômodos da gigantesca casa no Jockey, então praticamente todos os dias eu tomava café ou almoçava com ele no Au’Liban ou na sua casa.
E ali ele me contava muitas histórias, sempre com a presença da sua amiga e querida esposa Dona Yamena (a dona Yamena era uma cozinheira de primeira e me iniciou a apreciar as delícias da culinária Libanesa).
Uma noite estava jantando na casa dele com dona Yamena.
Ele diz, garoto voce está comendo, ”mulukhie” um dos principais pratos que são oferecidos aos Reis Árabes.
Então saiba, quando você for convidado para se sentar à mesa na casa de alguém é porque voce é bem-vindo, e completou, voce sabia que foi aqui nessa sala que o meu amigo Amador Aguiar (Presidente do Bradesco) passou os últimos dias da vida dele.
Ele fazia questão de contar histórias, eu adorava, quem sabe um dia eu conto as histórias sobre o Silvio Santos, Amador Aguiar, João Saad, Lazaro Brandão, Presidente Figueiredo, Frank Sinatra, Casinos de Las Vegas e muitas que ele me contou.
Assim que o restaurante foi inaugurado e mesmo debilitado ele ia almoçar por lá e várias vezes nos sentamos juntos a mesa com o Leopoldo Color e em outro momento com o então Deputado Federal e depois Presidente da República Michel Temer.
No seu aniversário resolvi fazer um boneco de um livro e junto com a Dona Yamena escolhemos uma foto e mandei encadernar com umas 200 páginas em branco com uma capa com a foto dele e o título ” Georges Gazale, um Libanês brasileiro”
Na noite do réveillon de 2004 eu e Laura passamos na Av. Paulista, quando saímos de lá por volta da 1 hora da manhã fomos visitá-lo no Hospital São Luiz, ele estava sozinho no quarto, ficamos conversando com ele um bom tempo e tenho certeza de que ficou muito contente em nos ver.
Uns dias depois recebi um telefonema da Marina dizendo que o Sr. Georges havia falecido.
Na mesma hora, eu e a Laura fomos até a casa dele no Jockey Clube onde foi realizado o velório e nos despedimos.
Continuei mantendo contato com a Dona Yamena, quando a Luísa nasceu fomos visita-la e ela e Fernanda presentou a nossa filha com um lindo casaco.
Um tempo depois ela faleceu e estive presente na missa de 7º dia.
As vezes falo por telefone com a dona Yone.
O Georginho virou amigo e fomos em família assistir à apresentação do Maestro João Carlos Martins no Teatro Santander e depois saimos para jantar algumas vezes.
Fernanda Gazale esteve em casa num café da manhã, e nos encontramos e algumas vezes para um jantar, seja no Alamara ou comer um pizza.
Estamos sempre em contato e ficou amiga da Laura e Luísa.
Adoraria ter feito a biografia do Georges Gazale.
Não deu tempo.